sexta-feira, setembro 19, 2003

A D. Maria a e sua dor

“Olá D. Maria, como se sente hoje? Dói-lhe alguma coisa?”
“Dói-me a cabeça e a alma!”
“Não é a alma, são os pulmões que lhe doem.”
“Não senhor doutor, dói-me a cabeça e a alma. Tá a ver, é aqui assim que me dói a alma.”
“Mas aí são os pulmões. A senhora têm aí uma infecção e é natural que tenha aí alguma dor.”
Enquanto dizia estas palavras com todas a convicções que lhe foram concedidas pelo canudo de medicina e a ciência bio-médica, uma pequena duvida começava-lhe a perfurar o cérebro, semelhante a uma dor tipo moidouro. Será que a dor realmente vinha da alma?

Nada mais disse à D. Maria, a tal que dizia que o que lhe dói-a era a alma e que isso não tinha solução. A senhora melhorou bastante da sua infecção respiratória e teve alta, dias depois, e durante o internamento nunca mais ouviu falar sobre a dor da alma que não se cura, nem nunca mais perguntou isso à paciente.
Anos mais tarde arrependeu-se da sua falta de curiosidade e de nunca ter desenvolvido o assunto com a D. Maria.
Por outro lado, provavelmente, a D. Maria arrependeu-se, naquele dia fatídico dia em que referiu a dor da sua alma, de ter dito um sintoma que os médicos nunca iriam perceber… cada um se calou por motivos diferentes.

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