Na escola era conhecido por ser o rapaz mais popular entre as raparigas. Teve várias namoradas, quase sempre as mais bonitas da sua escola. O auge da sua carreira pré-universitária foi andar com um uma rapariga que já estava no segundo ano da faculdade.
Durante a universidade, a onda continuou na mesma, inicialmente. Mas depois de dois anos em que se verteram muitos litros de álcool no sangue, muitos rebolões na cama, algumas menáges e festas sexuais, acabou por ser apanhado nas malhas dos relacionamentos sérios. Devia gostar mesmo dela, porque deste então nunca mais teve outras, só amantes, mas era como ele dizia:
“uma facadinha nas costas de uma relação, apenas a fortalece.”
Suponho que esteja associado com o ditado “se não mata engorda”.
Fora disso, a vida estava longe de ser paralela ao sucesso entre as raparigas. Entrou no curso em que qualquer pessoa poderia entrar, as saídas profissionais existiam, mas nunca relacionado com o curso, demorou mais quatro anos do que devia para se licenciar e nunca realmente se esforçou ou teve a mínima ideia para que servia.
Passou por lá só porque todos os seus amigos e conhecidos também lá andavam, tal como mais tarde resolveu casar-se porque todos eles também já estavam e não paravam de perguntar “quando é que se casam afinal? Só faltam vocês!”.
Tinha 50 anos, agora. Sentado numa poltrona, a ver televisão, depois de mais um dia de oito horas de trabalho, há espera que desse um jogo de futebol ou que desse o resumo do que aconteceu no Big Brother.
Em termos físicos, a barriga já estava bem desenvolvida, os cabelos só existiam ao lado das alamedas que eram as suas entradas, tinha dois filhos, homens. O mais velho era jogador da bola, com vinte e dois anos, sem um futuro promissor há sua frente, mas que conseguia ter um salário de mil euros, limpos, no final do mês, a jogar em clubes da segunda divisão distrital. Ao nível dos estudos, nunca entrou na universidade, só completou o décimo segundo ano e desde aí aliou à bola uma carreira em bares, como barman. Quando arrumasse as botas, queria ter o dinheiro suficiente para abrir um café na terra dos avós e convidar para lá os seus amigos da bola.
O problema que mais o arreliava era o seu catraio mais novo, já tinha dezanove anos, sempre foi muito esperto, conseguia sempre ser o aluno com melhores nota da sua turma e com o mínimo de esforço. Passava os dias a ler livros atrás de livros, perguntar sobre assuntos de que nada sabia e pouco se dava com as pessoas da sua idade. Mas tudo mudou desde há uns cinco anos para cá. Finalmente encontrou amigos, começou a ir ao cinema, apareceu, pouco depois, com uma namorada, mas não eram uns verdadeiros amigos. Um deles já morreu com uma overdose. Era um tipo impecável, antes de se meter na droga e levar o seu filho atrás. Depois começou a roubar a própria família, depois desapareceu, até ter sido encontrado morto. O seu filho, por mais que ele tente, não o ouve e continua a dar forte nas drogas. Não faz nada o dia inteiro, sai há noite, chega sempre depois das oito da manhã, em pior estado do que tinha saído e não se faz a mínima ideia onde ele arranja dinheiro para o que faz. Felizmente nunca tentou roubar a família e mesmo nos dias que passam, trás de vez em quando presentes para ele e para a sua mulher.
Muitas coisas já lhe passaram pela cabeça, que ele rouba, que se prostitui, que é traficante. Seguramente não é de uma forma legal que governa a sua vida.
Cinquenta anos, com tudo que já tinha para dar, já nem sequer as miúdas olham mais para ele. Ainda ouve, de vez em quando, pessoas a comentarem a sua beleza, quando era mais novo e depois a dizerem:
“Vejam no que ele se tornou! Desaproveitou toda uma vida. Cinquentão acabado quem o viu e quem o vê!”.
quinta-feira, novembro 20, 2003
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