terça-feira, dezembro 07, 2004

Só mais cinco minutos

Durante cinco minutos,
Só mais cinco minutos
Rebenta mais uma lufada de ar quente,
O sol aumenta,
O vento permanece frio,
A pele, exposta, também,
O coração continua a bater,
A urina a acumular,
E a fome a crescer.

Só mais cinco minutos,
E surge um telefone a tocar,
Um gole de chá,
Um vestir de camisola,
Um acto ridículo,
A abertura de um caderno,
O desespero de preencher a brancura da página,
Não o vazio ou a máscara,
Como o outro dizia.
Não vale a pena negar a sua existência,
Eles lá estão,
Mas também pensar sobre eles é inútil,
Eles continuam a lá permanecer,
E não mudam
E são talvez o cerne,
E nada lá se encontra!

Cinco minutos,
Só peço isso,
Como se isso não fosse pouco,
E ao mesmo tempo nada,
Como mortal e consciente
(isto é, acordado
Ou pelo menos com os olhos abertos)
Pode ser considerado tempo desperdiçado,
E por isso morto,
Estar,
Nesses cinco minutos.

Mas vai,
Eu dou-os,
Como já os dei muitas vezes,
Por causas insignificantes,
Mesmo sabendo da morbidez,
Do tempo,
Que fala comigo e pede,
- só mais cinco minutos.

PS: (um acrescento à posteriori)
O tempo é muito subjectivo tal como esses cinco minutos, tanto são muito como nada ao mesmo tempo, como os pensamos constantemente como não damos por ele, e assim é o tempo, ou pelo menos o que dizem dele.sim, podem mudar a vida, ou o mundo, como apenas serem um espaço entre outros cinco minutos....e entretanto o coração continua a bater, as teclas a fazerem barulho, as mãos a mexerem-se, o cd a rolar na aparelhagem, o som a sair de uma coluna mesmo ao seu lado, alguém que grita algo imperceptível em inglês... e os cinco minutos ainda não passaram e parecem eternos...quereremos mesmo ser eternos?

3 comentários:

Ciliegia disse...

Onun, fizeste-me lembrar uma amiga minha que tinha pressa em conseguir dormir só mais cinco minutos! Relatava que se empenhara freneticamente a atingir a inconsciência assim-do-nada, de modo a condensar em cinco minutos o descanso de uma noite. Foi linda a expressividade dela, a par de: «VÁ DORME, ANA!! TENS DE DORMIR MAIS CINCO MINUTOS! TU CONSEGUES!»...

Onun disse...

Cada um interpreta ou lembra-se de coisas diferentes ao ler poemas... alguma parte do poema, para mim, tem haver com dormir apenas mais cinco minutos... mas não vou dizer qual.. realmente não interessa para nada a minha opinião.

Onun disse...

O tempo é muito subjectivo tal como esses cinco minutos, tanto são muito como nada ao mesmo tempo, como os pensamos constantemente como não damos por ele, e assim é o tempo, ou pelo menos o que dizem dele.
sim podem mudar a vida, ou o mundo, como apenas serem um espaço entre outros cinco minutos....
e entretanto o coração continua a bater, as teclas a fazerem barulho, as mãos a mexerem-se, o cd a rolar na aprelhagem, o som a sair d euma coluna mesmo ao seu ado, alguém que grita algo imperceptível em inglês... e os cinco minutos ainda não passaram e parecem eternos...quereremos mesmo ser eternos?