sábado, agosto 16, 2008

O meu tio

Passei por ele,
Igual a tantos outros vagabundos,
Mas este surpreendeu-me,
Assemelhava-se a um tio meu.
Estava mais pálido e magro,
Barba desleixada,
Raros cabelos penteados para trás,
Tudo assente num velha e pesada gabardina,
Gasta como o meu tio,
Agora igual também ao meu avô.

Parei e voltei-me para trás.
Lembrei-me daquele quarto de hospital,
Num sexto andar a caminho do céu,
Por volta do meio dia.
Disfarcei-me de Deus,
Todo de branco, coçado e amarelo nas costuras,
Ninguém disse nada,
Nem o meu avô.
Eu olhava pela janela,
Ele o tecto,
Procurando nele a salvação
Ou mesmo a redenção.
Partir mais cedo,
Dizendo as palavras certa para a altura,
Mas nada saiu.
Uma lágrima caiu,
Sobre a triste solidão do momento,
Caduca como o Outono,
E o tio que encontrei na face de um desconhecido vagabundo.

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