quarta-feira, dezembro 31, 2014

Porque nunca é fim de ano ou novo ano.

Escrevo para me amarrar
- à vida -
que me afasta cada vez mais,
outros que invejo
inscrevem os seus nomes
em livros gastos pelo meu olhar,
àvidos de partir
- lugar nenhum -
onde nada há para relatar,
nem sequer uma tragédia
apenas o viver
sentir a amizade
o partilhar de existências,
comer o mesmo pão ressequido pela manhã
e desejar o mesmo pela tarde,
ao sol ou protegido da chuva,
porque é aí que se existe
na realidade compartilhada
repleta de inexistências que somos
enormes na sua insignificância
e me preenchem o vazio que me impregna a pele
dilacerada pela rotina
imposta por um objectivo
Há muito perdida.

agarro-me à tinta
para satisfazer esta necessidade
não de pertença ou desejo de erudição
mas contra a erosão da pele
que a vida impõe
como acto inevitável.

espeto a esferográfica na mão
ela sangra
o sangue grita
existo na dor e nesta partilha
que é respirar todos os dias.

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