Vivemos sempre sozinhos
Com as nossas memórias
E as (com)partilhadas
Construindo uma fantasia
Que arremessamos contra a realidade.
Recolhemos os cacos,
Do que restou,
Voltamos a colar alguns
E os outros deitamos fora.
Partilhamos a experiência
E acrescentamos algumas respostas e opiniões
Reforçamos a resistência das memórias
Que impomos a nós
Para acreditarmos na nossa ilusão.
Voltamos a jogar com ela
E esperamos que volte intacta,
O que nunca acontece,
Nem paramos de repetir,
Vezes sem conta.
Após milhares de respirações,
Esquecermo-nos do objectivo inicial das acções,
Quais é que são as memórias verdadeiras,
Menos ainda quem somos.
Continuamos esbarrando contra a (ir)realidade dos dias
Aspirando o ar,
Que já sentimos falta.
Tropeçamos nos cacos,
Amontoados aos nossos pés,
Olhando para eles com curiosidade,
As relíquias,
De um passado distante
E de uma outra pessoa.
Esquecemos os cacos,
Olhamos com mais interesse
Para as compactas bolas de cotão,
Alojadas no nosso umbigo,
Onde residem as nossas fortes ilusões.
Acordamos,
E lá estão elas,
Outras, não as mesmas,
Pois as de ontem não sobreviveram.
Desejamos que fossem as mesmas,
Mas desaprendemos a viver de outra maneira.
Voltamos a juntar os cacos,
Espalhados pela casa,
Moldando-os com o cuspo que restou dos sonhos.
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