Algo o aborrecia
Lia umas paginas na net, procurava informações sobre a América do Sul, mais especificamente sobre o Brasil, Peru, Argentina e Chile. Pelo meio deu uma saltada ao Canada, nada dizia sobre Montreal nem sobre o próximo concerto dos Do Make Say Think, ficou desiludido, mas continuou a viagem através do Quebeque e da bela língua, quando sussurrada por uma garganta feminina…
Algo o aborrecia, era aquele sistema de conversação on-line, o MSN, alguém queria falar com ele, mas não ligou e continuou a voar por países longínquos, que não conhecia e nunca chegaria a conhecer, apenas em sonhos. Buenos Aires, uma cidade cosmopolita que não agrada aos europeus devido à sua similitude com as cidades europeias, a Patagónia e sua beleza natural, o Chile e sua longuíssima costa, o Brasil e a sua samba e as mulheres bonitas..
E o sistema continuava a dar sinais de vida… “como estás?” “como correu o dia?” “aparece no café!”… apetecia-me desligar o MSN e continuar a divagar com os sonhos não realizáveis…. mas o não responder, trazia-lhe um gozo que não estava à espera, continuou a ignorar as incessantes mensagens. O desprezo que sentia por algumas pessoas, mas que não conseguia demonstrar na sua presença. Tinha sido demasiado estruturado pelas normas da boa educação, as dos seus pais, durante a sua infância, mas que mesmo agora, já falecidos, continuavam a pairar sobre a sua cabeça a ditar o que devia ou não fazer.
O não responder estava a ser igual à libertação de recalcamento que nunca imaginámos ter, mas que quando descoberto, apenas em actos semelhantes, conferia um prazer cínico e algo masoquista de ver os outros sofrer…para o nosso belo prazer… como agora começava a compreender algumas pessoas…
A torrente de mensagens no MSN aumentava de intensidade, “não respondes?” “estás mesmo aí?” “não acredito que não me estejas a responder?” ”essa desculpa de não me responderes e depois dizeres que estavas off-line ou que estavas na casa de banho também não vai resultar” “responde!”… esta catarse era seguia pela subida de um sorriso pela sua face, agora cada vez mais brilhante, de uma alegria jovial que isto lhe estava a proporcionar….já tinha visto tudo o que tinha que procurar, os mails para ler e os mails para escrever, desligou a ligação, tal como a box de conversação do MSN, sem uma palavra trocada com a pessoa do outro lado.
Ainda sentiu uma ponta de vergonha, logo após ter desligado o computador, mas durou pouco tempo, a adrenalina que ainda corria no seu sangue e dava-lhe poderes para esquecer tudo e de apenas focar as coisas que interessavam, os prazeres da vida….
terça-feira, setembro 23, 2003
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