Mesa vazia
Eu, numa não vazia, hora, sobre esta cadeira com almofada vermelha, como o sangue que corre pelas minhas veias, alimenta meu corpo, dois olhos observam, sala só com mesas vazias e ocupados e eu numa não vazia..
Amarelo, tampa de mesa, cor das frestas da janela, do sol que está escondido e não atinge com os seus raios o sistema de percepção de calor no corpo humano, sensação de frio. Frio gélido, da distância entre os homens, separados por meros trapos de tecido produzidos nas terras pobres de cada país, pessoas humildes e rudes na sua feitura, obrigados à sua sobrevivência, geração em geração, com significado de lei universal e imutável, regedora do todo o sempre, regada a suor e sangue.
Suor da minha face, seco, salgado, cristalizado numa imagem anterior de vivência activa, dinâmica, contra o vento que sopra o sol escondido naquela nuvem, sem conseguir limpar a névoa da vista, sobre este admiravel mundo……. Novo!
Mesma almofada vermelha, ler a mesma pagina branca, com pontos pretos onde olho fixamente sem ler, sinto que não sinto o rabo e parte das pernas, gostava de sair e olhar os outros, ouvi-los, os que passam ali na rua em frente. A sala continua cheia de mesas, como dantes, e eu não sinto o rabo, levanto-me e
deixo mais uma mesa vazia ao lado de outras.
No meio da multidão, gravador apontado, indiferente, problemas que caminham carregados, conversas alheias, capturadas em fitas magnéticas estranhas a elas, significados pessoais, despedidas, discussões, taxistas a reclamarem, buzinas, tudo no mesmo sitio, sem nexo e sentido, na mesma direcção.
Não vejo para onde olho, será que alguém me acena? Conheço-a? Ou uma rapariga cruza olhares comigo? Poderei estar a perder a rapariga dos meus sonhos? Que irei dizer mais tarde? Porque não a vi na altura? A história da minha vida, ver o que não olho e não reparar no que vejo, desculpa se olhei, mas não vi, não foi minha intenção, gostaria de voltar atrás e dizer-te: não vale a pena!
quarta-feira, setembro 24, 2003
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário