Recebeu uma mensagem, pressentida por três vibrações entrecortadas por dois silêncios repetidamente semelhantes, onde dizia:
“O mundo é lindo quando se ouve musica … mas termina sempre que ela acaba, no matter what happens after, don’t you think so? É melhor nunca remover os phones”
Sem os tirar dos ouvidos, elevou o som até ao limite do tolerado e agarrou-se aquela musica, como se o mundo acabasse depois, o que não aconteceu, o previsível, ele continuou a rodar à volta do Sol, a banhar-se, tal como as pessoas estendidas na areia escaldada pelo raios solares e arrefecida pelas marés salgadas. Esqueceu-se, mais tarde, que musica ou grupo era, importa?
Removeu os phones, os óculos escuros, terminou o gelado, pôs os óculos graduados e largou os fantasmas esborratados de cores, saiu do limbo que era o sonho que estava a viver, direccionou os olhos, que estavam fixos às pedras colocadas à frente das suas sapatilhas esburacadas e nauseabundas, para o que se mexia, o mundo, largou o frasco que continha o cheiro do corpo amado (corpo que se foi embora e nunca mais voltou, apenas deixando aquele ténue ar perfumado com o seu suor, armazenado naquele frágil recepiente) e cheirou o aroma proveniente das axilas de uma qualquer pessoa que se passeava no seu campo de visão, cansado nas suas gotículas de suor que teimosamente escorregavam da fronte até aos cantos dos lábios, onde eram novamente apanhados por uma língua ávida por um paladar salgado, igual às noites mal passadas, por opção própria, na companhia daquele corpo guardado no frasco através do seu odor.
Rapidamente apercebeu-se que tinha sido um erro, removeu os óculos e voltou ao mundo das sombras pouco definidas e onde todos são esbeltos e interessantes, desde que não se aproximassem o suficiente, quem quereria isso? Carregou no play, ansioso por uma batida que entrasse nos ouvidos, com o mesmo efeito de heroina a penetrar nas veias de um heroinómano, mesmo antes de deixar de sentir o mundo e viver dentro dele mesmo, sentir-se bem até a musica/droga acabar o seu efeito e esperar os segundos, como se de eternidade fossem, para a próxima dose de musica/heroina. O frasco estava inodoro, tinha que substitui-lo, uma vez mais, por um qualquer perfume barato e fingir que corporizava o físico da amada através de uma pequenas partículas que apenas podiam ser cheiradas.
Pegou no telemóvel e apagou a mensagem!
(isto tudo devido a uma sms enviada por Rui, obrigado)
relacionada com o texto de Bruno Sena, e O fetichismo das sms´s ... vale a pena.
sexta-feira, setembro 05, 2003
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