A partir de uma certa altura, os momentos eram vividos em situação off alternada com o on. Andava com os olhos abertos, mas por dentro estava apagado, só tinha essa percepção quando “acordava” e olhava para o lado e via o meus companheiros de viagem aluados, com o corpo ao meu lado, a dançar, mas com a mente a divagar por outros mundos. Sentia-me a flutuar, andava por cima das pessoas, ia à praia, tomava um banho, voltava-me e via se conhecia alguém na praia, no momento a seguir estou num quarto, a falar com uma rapariga, a apaixonar-me, a ouvir uma musica linda, que eu lhe canto e quanto estou prestes a dar-lhe o primeiro beijo, uma serpente invade-me. Ela tem uma cor estranha, cor de laranja, está pendurada nos ombros de uma rapariga linda, cabelo curto, lábios sensuais, olhos brilhantes, um riso congelado e um umbigo de se perder na escuridão que encerra. Ela voltou.
Comentei ao mesmo tempo que os meus dois amigos, cada um olhou para os que o rodeavam e desatamo-nos a rir. Não sei se foi do momento, mas seguramente que foi o gatilho para o estado eufórico que se viveu nos momentos a seguir, cada um teve consciência do ridículo da nossa figura, especados a ver a mesma rapariga, só faltava salivar, que nem uns cães quando vêm comida. Dispersamo-nos um pouco, cada um resolveu encontrar amigos perdidos nas imediações e não mais a serpente teve o poder que possuiu sobre nós, como nos passados trinta minutos, hipnóticos.
Deparei-me com um barrete branco, feito de lã, de quem eu não me lembrava, mas pela maneira como se dirigiu a mim, aceitei como garantido que já éramos conhecidos. Começou a falar do que eu lhe tinha dito no outro dia, eu apenas acenava a cabeça, não ouvia, continuava a tentar perceber onde é que a tinha conhecido. Pôs a mão no barrete, mas não me lembrou nada, olhei para os lábios e nunca os tinha saboreado, os olhos mal se viam, as mãos eram lindas mas nunca tinham tocado na minha pele, e encontrei-me a falar com uma conhecida desconhecida, donde teria ela vindo? Nunca cheguei a saber porque entretanto ela teve que ir ter com não sei quem e apenas se despediu com, “telefona-me. Beijo”. Eu levantei a minha mão, acenei um adeus, o mais sincero que consegui dar, sem saber a quem me dirigia. Quem era?
(continua)
domingo, novembro 02, 2003
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