domingo, novembro 02, 2003

Serpente... de cor laranja (pt II)

Para além do artigo prostrado no seu pescoço, havia uma outra falha, entre a camisa que vestia e as calças, estas que apenas cumpriam uma parte do seu dever, que é a de revestir o traseiro, o que neste caso era bom, porque não só permitia uma interessante visualização dele, do rabo, tal como do umbigo. Este, conjuntamente com os dois brilhantes olhos da serpente cor de laranja, que numa das pontas terminava em múltiplas tiras, tipo farrapos, eram a poção mágica para dominar os homens.
Continuei a ser levado pelo vento que ela provocava ao mexer-se na sua dança. Lembrei-me da letra “I should have kissed you when I was sixteen”, e gostava de o ter feito, mas não a conhecia na altura, por isso era melhor tentar agora, fingir que tenho dezasseis anos, sou inconsciente e jovem.
Olhei, mas não via nenhum cachecol cor de laranja, desapareceu? Procurei durante uns minutos, mas não se via nenhum espectro com a mesma silhueta, apenas via uma t-shirt deformada, abaulada, com uma risca em diagonal, a lembrar o uniforme do flamengo, penso que seja deste clube, ainda estive para lá ir perguntar, mas um amigo meu impediu-me essa acção, sem se aperceber disso, e chamou-me para dar uma volta, mais uma bela viagem.
Já nesta altura, as minhas calças encontravam-se molhadas, alguém tinha entornado cerveja na minha roupa, a sensação não era agradável. Não podia pôr a mão no bolso direito porque senão ela saía de lá toda molhada e a tresandar a esse liquido precioso que me tinha acompanhado boa parte da noite, elas, as cervejas e os camaradas, também eles da cerveja. Eles a tentarem-me iludir com a utopia da sociedade perfeita, o comunismo, e eu a tentar demonstrar algumas falhas, inerentes da natureza humana, que faziam tombar por terra a mais nobre das intenções. Acho que a minha conversa não era de todo desagradável para estes duros ouvidos, mas as suas maliciosas tácticas estavam actualizadas, já não actuavam ao nível do discurso, mas através de um barril de cerveja e pelo acto da multiplicação, tal como Jesus fez para conquistar a simpatia dos pescadores, estes faziam por conquistar a simpatia dos noctívagos.
(continua)

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