Tudo certinho, tudo marcado, sem nenhum pé fora do trilho delineado, sem desvios.
Na barriga, meio menu e não é por falta de dinheiro, apenas pela simples razão de ser mais que suficiente. O prato vem cheio, a transbordar comida pelos seus bordos, que são a finalização de uma pirâmide de amontoadas iguarias, coisas boas, picantes, com molho, cogumelos e outras a saber a arroz chinês. Boa boca têm eles.
Estou-me a desviar do assunto. Estou velho, já não corro riscos, os carros passam lá fora com os seus ávidos motores podres, sirenes de polícias, separados de mim por paredes confortáveis que albergam a minha cama, conseguida depois de mais de duas horas de regateio. A mulher era de peso.
Pocha, uma alcunha bastante vulgar por aquelas bandas, era uma crioula de trinta e cinco anos, forte, bastante forte, ainda com alguns traços incas nas suas feições, nariz bastante alargado no meio da face. Fisionomia bastante afastada da beleza grega, a que estava habituada na Europa, o seu cabelo era encaracolado, o que viria a verificar que não era muito comum, que caiam sobre os seus ombros, sem as típicas tranças, muito comuns nas gentes da montanha..
A sua presença intimida qualquer um. Voz forte como companhia, perfeita, ao seu físico. Mesmo assim possuía uma variedade de poses, que à primeira vistas não esperaríamos encontrar numa mulher com este porte.
O seu olhar é perspicaz, consegue avaliar a carteira, o seu peso em oiro, de qualquer turista. Para além do seu desespero, as vontades e quanto estão dispostos a desembolsar, saindo sempre, o turista, com a certeza de terem feito um bom negócio, apesar de saírem, quase sempre, de lá extorquidos.
Era esse o seu trabalho. Nada a comovia ou a demovia do seu trabalho, nem mesmo um turista “pobre”, apenas conseguiam ser um pouco menos chulado. O seu lema era :
“Sairá daqui seguramente chulado!”.
“Bem vindo à Inca Wasi, os seus desejos são meu desejo serem aqui realizados. Seguramente a melhor agência no Peru.” Diz ela a todos os seus clientes, com um sorriso falso, que camufla as suas intenções.
Estou velho, já vou no comodismo das cantigas!
segunda-feira, dezembro 22, 2003
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