Acordou com o som do telemóvel, este encontrava-se depositado em cima da mesinha de cabeceira no lado direito da cama.
O quarto encontrava completamente na penumbra, nenhuma luz lá penetrava e por isso a luz que emitia o telemóvel ao tocar mais parecia um farol que ofuscava os seus cansados olhos.
Vagarosamente dirigiu o seu braço em direcção a cabeceira, palpou o terreno que previa mentalmente por trás dos olhos cerrados, devido à luz ferir as suas sonolentas retinas, seguro de que faria tombar o telemóvel por falta de convicção do seu sentido de tacto deteriorado pelo despertar abrupto. Para sua surpresa conseguiu segurar com uma certa firmeza o dito objecto, levando-o de seguida para perto da sua cara a uma distância suficientemente curta para que os seus míopes olhos conseguissem ler o que lhe mostrava o esverdeado visor.
Primeiro olhou para o canto superior com o objectivo de visualizar as horas, onde leu: “5:36 a.m.“. Murmurou baixinho com uma voz rouca, pesada e imperceptível para um ouvido humano a adiantada hora na madrugada. Irritado com isso carregou de imediato no botão de rejeitar aquela barulheira, proferindo diversos palavrões para aquela interrupção inoportuna e para a pessoa que lhe causava isso, que não sabia qual era por não ter chegado a ler o nome que piscava no meio do brilhante visor.
O silêncio voltou a reinar no seu pequeno covil. Respirou fundo e tentou de seguida pensar no que fazer mas nada lhe ocorria. Cerrou os olhos com as pálpebras, iluminados pela luz artificial que emanava o objecto que ainda segurava em frente da sua cara e lá continuou inconscientemente parado.
Adormeceu rapidamente aconchegado por aquela luz e regressou ao sonho interrompido e nada o incomodava nem mesmo a posição incómoda em que segurava o telemóvel que lhe causava falta de irrigação, pressentida por um crescente formigueiro.
O telemóvel não voltou a tocar, não naquele curto espaço de tempo, mas assim que a luz do visor se extinguiu as pálpebras abriram, continuando os olhos na total penumbra e nada viam. Olhou e como nada via, não percebia porque segurava algo que não via e não sabia como lá tinha ido parar. Não conseguia reconhecer onde estava porque não conseguia distinguir nada e sentia-se confuso com isso. Os pensamentos tinham dificuldade em se desenvolver naquele preciso momento e demorou um bocado até recuperar por completo a consciência adormecida. Carregou no objecto que tinha na sua mão e ele brilhou. Surpreso, reconheceu que era o seu telemóvel e recordou-se que eram cinco e meia da manhã e que alguém lhe tinha telefonado. Verificou quem tinha incorrido em tamanho erro e retirou o som do telemóvel para que não ocorresse outra vez.
Recolocou o objecto causador de toda aquela situação no sítio devido. Virou-se para o lado oposto da sua mesinha de cabeceira, pensando em estratégias de vingança para a pessoa que o tinha desperto desnecessariamente. Isso não impediu que rapidamente penetrasse em sonhos onde se prolongaram esses pensamentos logo após ter recolocado o seu corpo numa posição confortável e fechado os olhos. Os pensamentos voaram ao sabor do sonho e nunca mais foram recordados, tal como o episódio do telemóvel se embrenhou entre o mundo real e a ficção dos sonhos. Como sempre devem ser os pensamentos de vinganças idealizados em situações de tal extremidade e de onde nunca devem sair.
segunda-feira, março 15, 2004
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