
Sentado na sanita, a esvaziar os seus intestinos sentia-se cada vez mais vazio e ao mesmo tempo mais leve. Tal como o que evacuava, sentia-se na merda, não por estar no meio dela mas porque nada o excitava ou conseguia observar com um olhar incrédulo e fascinado sobre o mundo que o rodeava.
Tentou mudar de cidade, namorada, experiências sexuais novas, novas drogas, perder-se na noite ou no trabalho, ser certinho ou totalmente desordenado, andar de carro ou a pé, viver sozinho ou acompanhado, ter ou não namorada e nada. Nada fazia diferença, no fundo e no final tudo era a mesma coisa. Descobria cada vez mais que o seu mundo era um ciclo vicioso de nulidades que não formavam nenhuma intencionalidade na vida. Um buraco negro que se abria em todos os sentidos e todos os sentimentos sugava. Não sentia nem tristeza ou alegria, era um poço sem fundo de não emoções. Mas não era o único. Os outros também os eram.
A sua última experiência tinha sido desoladora, caricata e típica. Uma conhecida tinha aceito o desafio de sair um pouco, como era mais que óbvio acabou na cama de um deles, por acaso no da dela, tal como programado implicitamente. Tudo ia bem, até a conversa de sempre. Um a dizer que não sabe bem o que procura no outro, ou o que lhe fascina, e a outra pessoa com medo de se magoar ou de querer levar aquilo a sério. Paleio para ocupar o silêncio morto que medeia entre as palavras e os actos porque depois só há gemidos e prazer fútil, e se correr bem, para os dois lados. Mas aqui é que surgiu a desolação, o acto de finalização mais que mecânico, mais sem sentimento que uma máquina. No fim cada um virou para o seu lado e mais nada, mais nada a conversar ou a ainda provocar no outro. Uns minutos de movimento intenso, a explosão e mais nada, nada cá para fora, nada que demonstrasse um pingo de suor que fosse. Creio que uma punheta era mais intenso que aquilo ou até mesmo só um treino de um desporto físico qualquer.
Num mundo cada vez mais repleto do vazio de usar e deitar fora, onde não se encontram alternativas, olhasse para trás e talvez a vida menos libertário dos nossos antepassados, com as suas tradições e normas mais restritas tornassem os actos mais formais e por isso mais significativos. Talvez assim fosse melhor tornar a vida de cada um e voltar a esses tempos. Largar este momento presente, que na verdade já cá não está porque já se pensa no futuro. Nunca cá se está, o presente já não existe, ou se pensa no passado ou já no futuro. No meio um gap, negro, um buraco negro que suga tudo e nada deixa cá fora.
Não há nada a fazer.
Pegou num lenço de papel, limpou o rabo e depois mirou o pedaço branco esborratado com uma massa viscosa acastanhada que deitava um odor característico do seu interior. Antes de o deitar pela sanita disse:
“Isto é mesmo o meu interior, uma bela merda!”
3 comentários:
O neurótico identifica-se; o "normal" não sente.
Prefere-se Sentir.
*
Existe alguma razão para se ser psiquiatra ou pretender o ser.. talvez curar-se a si próprio o estar no meio dos seus....
Falava (também) de mim, pelo que, compreendo-te perfeitamente, Onun.
Entre eles..., claro que sim.
;*)
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