sexta-feira, janeiro 19, 2007

Ir e Vir, Ir e Vir, Ir e Vir

Exasperante
Ir e vir,
Acordar e dormir!
Acordar para quê?
Descansar de quê?
Ciclo vicioso de fazeres,
Obrigações,
Sem desejos,
Sem miragens,
Apenas a repetição,
O deja vú que é abrir os olhos,
Ver o que já se sabe,
Movimentos sem objectivo,
Apenas traz pão e manteiga,
No topo da mesa,
Tal como a cereja,
A última gota entornada,
Copo parte-se,
Sangue jorra de um corpo sem vida,
Sem emoções novas,
Sensações que escapam do centro das atenções,
Não as reconhece,
Apenas algumas reminiscências da infância,
Devidamente apagadas com a borracha do tempo.

Continua-se a colocar o despertador para as oito horas,
Finge-se que está tudo bem,
Todos abanam a cabeça,
Reforçam-se uns aos outros,
“é este o caminho certo”
Deitam um sorriso cá para fora,
Ausente de significado em sentido oposto.

No caminho para o trabalho,
Galgam a estrada,
Pressentida como o caminho escolhido,
Incapazes de sentir o desejo a cada batimento,
O odor que penetra em cada narina,
O calafrio num pêlo eriçado na nuca,
O desejo de continuar a viagem de sensações.

Seres afastados das emoções,
Animais permanentemente assustados,
Refugiam-se em matilhas,
Liderados por outros,
Com medo,
Caminham no sentido da morte,
Sem o saberem.
Iludem-se com ficções,
Realidades compreensíveis e controláveis,
Rejeitam o que não compreendem,
Rejeitam-se a si próprios,
Diferentes, incompreensíveis, seres com desejos,
Emoções escondidas que reprimem,
Até à exaustão,
Apagam a memória de sensações do dia a dia,
Como quem despeja o lixo todos os dias,
Mas ela fica presa,
Não à pele,
Mas à alma que todos dizem já não existir,
Nunca existiu…
… nunca existiu
… nunca existiu
… é triste morrer e pensar “nunca existi”.
Afastado das emoções,
Afastado de ser,
De sentir,
De dar significado,
De contentar-se com isso,
Em vez disso,
Perdeu-se,
Fez dele próprio o que os outros queriam,
Deixou-se ir,
Pois pensou que eles sabiam mais do que ele,
Tarde demais descobriu,
Sabiam tanto como ele,
Perdidos como ele,
Ambos de olhos fechamos,
Diziam que viam a estrada,
Seguros disso,
Batiam com a cabeça na parede,
Pensando que isso é que era viver.

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