No Labirinto da mente de uma homem ocorrem sempre pensamentos impossíveis de não nos sentirmo-nos presos:
“Um amigo confidenciou-me que uma vez se apaixonou por uma rapariga que passava num autocarro, já não sei de que linha, nem ele. A figura efémera, esgarçada pelos vidros sujos de uma tarde lamacenta de Novembro, assomou-lhe súbita, rasgando-lhe a consciência e aspirando a sua alma para a ventura de um momento irrepetível. Naquele momento ele foi feliz como nunca foi ou voltaria a ser. Perguntei-lhe: como poderias não amar uma imagem que te prometeu a felicidade?”
Tudo isto me transportou para uma musica de muitos minutos, escutado num estado não ébrio nem sóbrio, em Bona, num quarto de um americano amigo, com mais não sei quantos amigos, de muitas nacionalidades. A musica, produzida por esse meu amigo americano, um sujeito de aspecto tipicamente “Dread”, calças rotas, descaídas até à linha do rego, tudo tapado por uns boxers de cor singela, acompanhado por uma T-shirt verde com um numero estampado na sua face anterior, agasalhado por um casaco semelhante à parte de cima dos fatos de treino dos anos 70. Tudo isto era uma armadura, porque ele apaixonava-se em qualquer esquina e frequentemente. Esta e muitas outras musicas dele, eram baseadas nesses sentimentos e esta era sobre uma rapariga por quem se tinha apaixonado na linha de autocarro 21 “Ipendörf”. Nunca mais a viu, disse-me ele, mas a musica ficou-me no ouvido, era linda, e assim suponha também a rapariga retratada, por momentos vivi a paixão desse meu amigo e perguntei a mim mesmo:
“é impossível não amar uma imagem que nos promete felicidade”.
Invejei-o por isso, mas durou pouco tempo, mais tarde haveria por me apaixonar muitas vezes por imagens, antigas, novas, desconhecidas, não interessava. Passei a ver o mundo através de uma pequena janela, a da maquina fotográfica e carregava no botão à velocidade de cada imagem pela qual me apaixonava, algumas repetidamente. Tudo ficou preso no limbo paradoxal que são as fotografias, ainda mais aquelas que tirei e já não existem para além daquela fina película e nalguns cópias que fui oferecendo.
terça-feira, outubro 21, 2003
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