Uma janela, pequena com grades no seu lado de fora. Cá dentro, no seu lado direito, meia bola, transparente, pregada à parede, cheia de água e um minúsculo peixe lá dentro. A sua cor é a de sempre, é um peixe de uma cor banal, sem caracter, sem nenhuma característica que o diferencie de milhares de outros peixes, provavelmente no meio de milhares de outros peixes, iguais si, seus irmãos e meios-irmãos, que nunca chegou a conhecer, pois foi posto dentre deste “aquário meia-bola” e vendido ao primeiro cliente que o quis.
Por baixo dele, o revestimento da parede parece querer abandona-la, à parede e aos donos. Cai desalmadamente, como choram as almas perdidas de amor por pessoas que as desprezam. Não sei se tem consciência do transtorno que causa aos donos desta superfície, mas duvido que se importe com a opinião deles. Quer sair dali, existe demasiada húmidade e isso faz-lhe mal à saúde, diz o revestimento para mim. No seu cerne está um estóico interruptor, não serve para nada, mas mantêm-se firme da importância da sua existência, para todo o mundo que gira em seu torno. Carrego nele e nada, nada se acende ou apaga, apenas a sua utilidade. Ao menos não destoa no meio de tanta húmidade e ao menos não cai.
Do outro lado da janela, está tudo imaculado, apenas branco sem um indício de estar a ser impregnada de muitos vícios da sua gémea parede, no lado oposto da janela.
A janela encontra-se no meio destas duas paredes, opostas em si mesmas, mas também na posição relativa à janela, no meu posto de vista. Ela afunda-se na parede, cada vez mais pequeno o orifício, tal como as fendas da parede de uma muralha de um castelo, em que o seu objectivo era puder ver lá para fora e estar protegido do fogo inimigo. Tem um pequeno vidro, do seu tamanho, a protege-la, impede que o vento do rio suba até mim e apanhe desprevenido o meu descoberto pescoço.
Lá fora? Está o mundo, alheio a mim e a esta janela. O tempo não ajuda e o nevoeiro impede a visão do rio que se encontra lá em baixo, assim o dizem as pessoas, hoje não as posso afirmar ou infirmar, simplesmente não consigo observar nada.
Feliz é o peixe, que na impossibilidade de mirar o orifício, não se pergunta o que está lá fora. Por trás daquelas grades e daquele nevoeiro, o que estará lá?
Hoje não dá para ver nada, por isso terei que esperar pelo amanhã ou noutro dia, onde os raios do sol penetrem até à crosta terrestre.
quarta-feira, novembro 12, 2003
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