domingo, dezembro 28, 2003

Água Termal

No meio do vale, ao ar livre e apenas de calções de banho, a absorver a paisagem que crescia pelos montes, rodeando as águas termais, que se encontravam 40ºC.
Como a temperatura era em demasia, mesmo estando apenas 10ºC no exterior que o cercava, tinha que permanecer com metade do tronco fora de água, para dissipar algum calor e sentir-se confortável. Era uma sensação nova, usufruir de duas temperaturas contrastantes e sentir-se, bem, no meio delas.
Decidiu pôr a cabeça debaixo de água e nadar até ao outro lado. Durante o seu percurso, contemplou as “bifas” que faziam o mesmo que ele, umas férias de rei.
Sendo ele natural do Algarve, estava mais habituado a desprezar estas pessoas, que todos os anos o “visitavam”, a quem ele chamava pelo nome de “bifas”, do que aceita-los como seus iguais, como naquele momento. O nome com que os descrevia, “bifas”, derivava de um comum bife porque eram uma comida fácil, melhor, eram umas presas que se ofereciam aos seus predadores.
Agora era ele que se tinha tornado num “bife”, para as pessoas do país que visitava, habitantes de zonas inóspitas, mas com paisagens maravilhosas e com termas ao ar livre, a uma altura de três mil e oitocentos metros. Os “bifes” eram desejados pelos habitantes pelo dinheiro que traziam e ali escasseava.
O seu papel tradicional estava invertido, mas continuava a admirar os outros estrangeiros, principalmente os de origem europeia, como “bifes” a abater. Ele continuava a ser um predador e elas as presas, ávidas de serem devoradas, tipo fast-food, que se come e deita-se fora.
O pequeno trajecto por si realizado, até ao lado oposto onde se encontrava na piscina termal, tinha vários intuitos:
Observação subaquático; ver de forma mais detalhada e próxima as presas e tentar apanhar um olhar mais lascivo, facilmente captado por uns olhos que se moviam conjuntamente com o seu movimento.
Debaixo de água deparou-se com alguma fruta madura, pronta para a ceia de natal que se avizinhava, mas o problema é que os únicos olhos que o seguiram foram a de um protótipo de loiro, alto, bem constituído e pele muito branca, que já tinham em diversas ocasiões tentado fazer contacto.
Exasperado com a queda da sua honra masculina, de não ter sexo há mais de duas semanas, goravam as suas expectativas de uma férias de sexo exótico e barato. As únicas perspectivas que conseguia ver, naquele momento, eram a de um nórdico peludo nas suas costas, o que era uma ofensa para o seu machismo algarvio.
Deu uma ultima braçada de volta ao outro lado da piscina, já a pensar em ir embora, quando num momento de distracção esbarrou com a sua face no meio de um par de seios. Ela apareceu do nada, nem sequer tinha dado pela sua presença, surpreendendo-o, tal como um pequeno rubor, de embaraço, na sua face. Atrapalhou-se e pediu desculpas, por entre os dentes, sem se aperceber que ninguém, provavelmente, o perceberia.
Ela, sem nenhum indício de desconforto, era uma rapariga segura do seu potencial, dirigiu-se a ele:
“What?”
“Sorry, it wasn’t my intention.”
“Intention of what?”
Nessa altura olhou para a rapariga, pela primeira vez, apercebendo-se do peixe que lhe tinha saltado para a cana, quando nem sequer tinha isco ou o anzol dentro de água.
Desistiu da ideia de ir embora e ainda permaneceu mais uma hora naquele vale, cada vez mais maravilhoso.

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