Usar a casa de banho de certos cafés, que pela sua raridade em certos lugares do mundo, são sítios de eleição por terem um serviço higiénico digno de uma rabo aristocrático, hospedado normalmente no hotel de muitas estrelas, localizado mesmo ao seu lado.
Relaxado a beber uma caneca de café aguado, ouvindo uma tranquila música espanhola, com os olhos pregados na janela à minha direita, observava o tempo cinzento que estava lá fora, tal como um vendedor de cavacos que não desistia, deliciando-me com os confortos que este pequeno café oferecia, invulgar para as gentes daquela região.
Alguém me incómoda e pergunta se quero mais alguma coisa, digo que não, apenas necessito de ir ao “baño”, onde é? Alegro-me com a resposta e dirijo-me imediatamente para ele, algo decente, limpo e perfumado me esperava ao contrário daquela coisa com que me tinha deparado no dia anterior.
Difícil de descrever, tal como o restaurante/bar-alterne em que a encontrei. De dia era restaurante, apenas para o almoço, as suas cores verde alface realçavam-se nos meus olhos, talvez foi isso que me atraiu a ele, a meio das paredes poderia visualizar-se umas pequenas flores estampadas, muito foleiras, e ligeiramente mais acima uma serpentina de luzes que vagueava por toda a sala. Mas não era só isto que dava uma certa elegância ao sítio, havia também, precisamente por cima da mesa onde almoçava, uma daquelas bolas de cristais que proporcionavam aqueles efeitos magníficos nos anos oitenta. Por trás de uma esquina, a um nível superior ao do chão, encontrava-se uma pequena plataforma, perfeitamente equipa com uma mesa de mistura e um leitor de cds. Há hora a que fui, a do almoço, ninguém lá estava. Apenas imaginei como seria à noite, confirmado com uma visita relâmpago que por lá fiz nesse mesmo dia há noite.
Ao fundo da sala, ao seu lado direito, encontrava-se uma pequena porta que ia dar à cozinha e um pouco mais à sua direita uma escada. Essa escada era pequena, feita em madeira já podre, ia dar a pequenos cubículos ainda repletos de um odor de sexo fácil, rápido e pago. Mas não era apenas aí que se pressentia esse odor. À esquerda da cozinha havia um pequeno corredor, escuro por não possuir janelas nem luz eléctrica, que ia dar a três pequenos compartimentos, que pareciam terem sido escavado numa pedra. Eles eram as casa de banho daquele sítio híbrido, um dos buracos, supostamente, era a casa de banho das mulheres, noutro havia um urinol comunitário e no que restava havia um exíguo lavatório para lavar as mãos ou para quem preferisse, vomitar lá dentro. Era aí que também se podia encontrava o odor a sexo fácil, rápido e pago, mas misturado com o cheiro a fluídos vários, tal como o de merda, vómito e urina diluída em cusqueña ou Pisco sauer. Só mesmo alguém desesperado, com muito pouco dinheiro e totalmente embebido em álcool poderia conseguir praticar sexo naquele sítio, sem se sentir imediatamente nauseado. Passei por lá e voltei para trás sem me aliviar, voltei para a minha mesa, devorei rapidamente a comida e saí apressado à procura de uma verdadeira casa de banho.
Puxo as calças para cima, também o cinto com os valores, para a minha cintura e aperto o laço das calças de alpaca que levo vestido, cheias de cores, tal como a de um palhaço. Lavo as mãos e os dentes, enxaguo as mão na tolha limpa que por ali se encontrava.
Saí da casa de banho esvaziado e com a felicidade que apenas pode ser proporcionado por um café estiloso no meio do Peru, localizado mesmo ao lado de um hotel de muitas estrelas, equipado com uma casa de banho decente, limpa e perfumada.
segunda-feira, janeiro 05, 2004
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