Estudou línguas e culturas Ibéricas e Sul Americanas na sua cidade natal. Mais tarde viria a casar com o seu namorado de longa data aos vinte e quatro anos. Ele, actualmente, trabalhava na embaixada polaca em Washington.
Terminado o curso, sabia que não queria ser uma simples professora num qualquer liceu polaco, a dar aulas de uma língua pela qual quase ninguém tinha interesse, pelo menos no seu país. Inicialmente tentou tornar-se assistente de alguns professores da sua universidade, mas devido aos cortes orçamentais foi-lhe vedado essa possibilidade.
Só lhe restava uma última hipóteses, em que se sentisse realizada, fazer um doutoramento sobre a cultura de um dos países, de um dos quais tinha estudado durante o seu curso. Conseguir uma bolsa para essa finalidade não era difícil, pelo menos não nos últimos anos, pois como o seu país tinha alguns acordos com a comunidade europeia, na qual deveria entrar dentro de muito pouco tempo, havia já alguns protocolos que forneciam bolsas a pessoas do seu país interessadas em doutoramentos.
Dentro dos países que faziam “parte” do seu curso, já tinha definido há algum tempo que se quedaria por um da América do Sul, mas ainda não tinha escolhido ao certo qual. Gostaria que fosse o país de um dos seus autores preferidos, Mario Vargas Llosa do Peru, Gabriel Garcia Marques que era Colombiano, Paulo Coelho que vinha do país do Samba e o falecido Jorge Luis Borges, uma grande perca para a Argentina.
Tanto a Colómbia, pela sua instabilidade económica e quartéis da droga, como a argentina, pela recessão económica e pela morte recente de Jorge Luis Borges, estavam na cauda das suas preferencias.
Depois disto fez diversos contactos pelos países que tinha escolhido e nenhum, excepto o Peru, lhe deu garantias de ajudas académicas e logísticas para realizar a sua tese de doutoramento. As pessoas no Peru que lhe responderam, pareciam muito interessadas que alguém estrangeiro estudasse a sua cultura e a espalhasse pelo mundo. Isto convenceu-a que o Peru era o país escolhido e agora só faltava decidir o que é que queria verdadeiramente estudar.
Para isso seria uma boa ideia primeiro visitar o país, falar directamente com as pessoas e depois decidir.
Infelizmente não podia passar esse período conjuntamente com o seu marido, pois este não podia pedir tempo de férias na mesma altura, tendo por isso que passar um mês sozinha num país quase desconhecido, apenas por intermédio dos livros, mas como ela sabia que os livros são livros, sempre muito diferentes do mundo real.
Um mês parece pequeno para alguns, para outros é como se fosse uma eternidade e para ela este último foi o caso dela. Ao decidir ir ao Peru, sozinha pelo facto de o marido não a puder acompanhar, aproveitou para visitar alguns sítios que tinha lido referenciados em muitos livros sobre o país, o que lhe proporcionou longas viagens solitárias, com quase ninguém com quem falar, sem ninguém para a aquecer durante a noite, desgastantes preocupações com a bagagens, valores, como viajar e onde dormir. Para além disso o país que descobriu, alheio à sua capital, era muito pobre, as pessoas queriam sempre algum dinheiro em troca de favores que lhe prestavam, sem pedir permissão para os realizar, havia sempre alguém que lhe avisava que devia ter muito cuidado e que não devia confiar em ninguém. O Peru profundo que encontrou foi um choque, nada tinha haver com o que tinha lido, mas isso não quis dizer que não tivesse a apreciar, muito pelo contrário, muitas vezes o que nos surpreende mais, pela positiva, são as coisas inesperadas.
O seu percurso no Peru não foi muito diferente ao de muitos turistas que para lá vão. Aterrou em Lima, onde teve que fazer alguns contactos para o seu possível doutoramento, uma cidade muito cinzenta que convida as pessoas a quererem sair dali, a ela também, onde tentou ficar o mínimo de tempo possível. No seu trajecto passou por cidades como Nasca, Arequipa, Colca, Puno, Cusco e Machu Picchú, onde passou de uma forma muito rápida, apenas para ter algumas ideias sobre o Peru, para depois regressar a Lima para concluir alguns detalhes importantes para a sua possível tese.
Pelo meio, felizmente, fez alguns contactos com outros turistas, com os quais tinha apenas a sua companhia de uma forma fugaz. Houve um casal de portugueses que lhe causou um afecto particular. Isso deveu-se a terem-se encontrado em todos os sítios pelos quais passou, sem terem combinado nada. Tudo começou cedo, em plena Nasca, uma autêntica aldeia onde os mesmos carros não paravam reaparecer e de buzinar. Um deles a convidou para jantarem juntos, vistos terem reparado que ela estava sozinho e isso deu azo a que ficassem até à hora que tinha de apanhar o autocarro, por volta das 23h, a beber cerveja e a conversar banalidades, o que era sempre bom quando se passava dias inteiros sem falar com alguém. Depois disto a coincidência tomou conta dos seus rumos e fê-los reencontrarem-se em Arequipa, no meio de uma greve que passava pela praça de armas, para depois esbarrarem-se no meio do Colca, entre muitos outros turistas empoleirados a verem os condores passarem. A última vez que os viu, apenas a um deles, tinha acabado de regressar de Machu Picchú, e passeava pelas ruas de Cusco a fazer tempo, pois partia nesse mesmo dia para Lima. Decidiram sentar-se num café e pôr a conversa em dia, pois eles ainda não tinham ido a Machu Picchú e iam fazer o percurso mais longo, o de quatro dias. Despediram-se no fim com a certeza que se viriam, seguramente, em Lima ou na velhinha Europa.
Agora, no aeroporto internacional de Lima, estava ela à espera do seu avião para Washington e do seu casal de amigos portugueses que deviam estar mesmo a aparecer para se despedirem dela… assim desejava ela, ali sozinha no meio de desconhecidos.
terça-feira, janeiro 06, 2004
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