Como sempre, tudo começou quando estava sentado num café, na sua esplanada em plena amena noite de Verão, já com alguns finos e pratos de empalhada vazios sob a mesa, rodeado por milhares de cascas de amendoim e pequenos gomos de tremoços já sem o seu conteúdo. À volta da mesa alguma cadeiras, tortas devido ao pavimento que as suportava, que suspendiam dois pares de corpos entretidos a praguejar sobre as pernas que passavam, as bolas que não entravam, as missas que outros não acreditavam – mas a reproduziam – e as virtudes de conduzir os seus destinos mais na faixa direita ou esquerda – como se isso realmente fosse importante e não se tornassem todos nuns fantoches em cima de um pedestal.
As horas passavam sem ser notadas, num ápice o empregado já estava exigir o pagamento dos vazios copos – que se queriam mas é cheios -, ninguém se lembrava do número exacto esperando que alguém se enganasse a fazer contas e por aqueles que gostavam de pagar as empalhadas.
Mas isto era uma mera formalidade, pois de um café andavam para outro, mesmo ao cimo da rua, ocupavam uma mesa, nas mesmas posições que anteriormente e continuavam a praguejar em todas as direcções, agora também com o empregado que demorava em trazer os copos vazios – assim parecia.
A certa hora as pessoas começaram a dispersar-se por outros amigos, que perfaziam os mesmos caminhos – não existiam muitas mais alternativas -, praguejavam sobre outras coisas e alguns tentavam conversar com certas pessoas.
Entretanto alguns desapareciam ser dar notícias, os outros – os resistentes – praguejavam agora sobre esses que estavam em falta e continuavam a romaria pelas ruas iluminadas por néon e adulteradas pelos vapores etílicos que saiam dos escapes dos carros – diziam alguns e os outros acreditavam.
A maioria queria ir a um sítio – seguramente o mais barato – mas um reclamava que aquilo era uma seca e preferia outro. Não se entendiam e o do contra afirmou que tinha combinado com alguém lá. Os outros compreenderam-no e juntaram-se a ele e ao seu encontro. Fingiram que nunca se sabia o que se podia lá encontrar – alguma supressa -, mas isso nunca acontecia.
O porteiro não os quis deixar entrar mas com um pouco de insistência lá entraram e perderam-se na memória.
Acordaram no dia seguinte a dizer:
“Que merda de sítio, nunca mais lá ponho os pés!”
Alguém telefona a alguém para tomar café e todos concordam.
Mais uma vez sentados onde tudo tinha começado, na esplanada do mesmo café sob o sol das três da tarde com um jornal à frente a fingir que se lê e a praguejar sobre a noite anterior, pelas escolhas, pelas conversas, pelo reavivar do que aconteceu e chegar à conclusão que tinha sido mais uma noite “àbrir!”. “Muito bom!” comentaram todos.
Mais uma vez, como usual, o empregado exigiu que se pagasse, desta vez os cafés e as águas das pedras vazias, – quando o que se queria era mais uma rodada -. Para variar, alguém que teve que ir mais cedo para casa esqueceu-se de deixar dinheiro e todos começaram a praguejar sobre ele e a negar a existência e o pagamento da sua dívida.
Separam-se a combinar um café para mais logo, numa qualquer esplanada de um café qualquer que seria seguramente o mesmo, mas por momentos mentiam a si próprios e iludiam-se com uma possível alteração dos saturados hábitos naquele dito café.
“OK! As dez no tropi. Até logo.”
sábado, fevereiro 14, 2004
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário