O ar já lhe faltava há alguns momentos mas não queria parar.
Agora que tinha conseguido “engolir” uma grande lufada de ar para dentro dos seus pulmões, não lhe parecia que se estivesse a sentir melhor e revivia ainda com maior intensidade os minutos passados.
“Estás bem?”
“Sim!”
“Foi bom!”
“Concordo. Muito!”
Sentia um espesso fio húmido a descer por entre as suas pernas e como não tinhas forças para mais nada sem ser respirar, não fez esforço nenhum para se limpar.
Encostada contra a uma parede vermelha, dividida por um pequeno cilindro reluzente com um botão no seu topo, e rodeada por mais três paredes, da mesma cor, preenchidas por escritos que lhe saturavam os olhos e demandavam descanso. “Devia fechar os olhos e descansar um pouco.” Disse ela para si mesma.
A porta mesmo à sua frente fechou-se, mas ninguém tinha entrado. Estava demasiado cansada para ficar curiosa com esse facto.
Sentou-se de pernas abertas sobre a retrete que lá existia, os cotovelos faziam companhia aos joelhos, donde partiam os suportes para umas mãos que agarravam a sua pêndula cabeça. Só nessa altura notou o quanto as suas pernas tremiam.
Fechou os olhos, para deixar de ver palavras a voarem à sua frente, e urinou. Sentiu-se imediatamente mais leve, limpa e outra pessoa.
Olhou de novo para as paredes que a rodeavam mas agora procurando papel higiénico, o que não encontrou, apenas se deparou com um rolo vazio, igual a uma carcaça. Procurou nos seus pertences a presença de lenços de papel e como sempre não tinha trazido nenhum consigo. Não fez caso disso, pegou nas suas cuecas despojadas no chão, que ao pegar nelas reparou estarem encharcadas pelos líquidos que as envolviam, vestiu-as na mesma, apesar da momentânea repugnância. A meio do acto deparou-se outra vez com o espesso pingo que descia por entre as suas pernas e não vez caso, passando rapidamente as cuecas molhadas por cima dele como se o tivesse a limpar com papel higiénico.
Levantou-se de seguida, com o pingo já esquecido na cabeça, pôs a saia para baixo, ajeitou o soutien que naquele momento apenas seguravam ar – ao passo que os seus seios apontavam para o chão – e vestiu a camisola vermelha, que felizmente tinha ficado presa no cilindro metálico por cima da retrete. De seguida desalinhou o cabelo e não refez a maquilhagem – estava na moda ter ar de junkie.
Olhou para o chão à procura da sua mala, encontrando-a facilmente e por baixo dela uma carteira de homem. Desconfiada de quem seria, abriu e deparou-se com uma foto péssima – como em quase todas as fotos tipo passe – do seu companheiro de sexo ocasional dessa noite. Afinal ele tinha-lha dado um nome falso, como se ela importasse com isso ou o quisesse voltar a ver ou dar outra queca. O seu verdadeiro nome começava por M. e era estranho, nem sequer sabia como o deveria pronunciar.
Ao mesmo tempo que desbravava os conteúdos da carteira, retirou da sua mala uma pequena caixa e preparou duas linhas, que rapidamente snifou causando um efeito imediato.
Começou a divagar através da mente do desconhecido, ele até era engraçado e deu uma boa queca, podia até ser um bom namorado ou amante, mais tarde casar e pensar em formar uma família.
“Sai daí!” alguém gritou do outro lado da porta.
Acordou do sonho, relembrou a boa vida que levaria com esse tal M. “até dávamos um bom casal, mas tu arruinaste todos os nossos planos” e deitou a carteira na retrete com todos os seus documentos e dinheiro lá dentro e puxou o autoclismo. Ficou parada a ver as suas memórias a afundarem-se, sem remorsos. “A vida continua” disse ela.
Saiu rapidamente da casa de banho, a noite ainda era uma criança, tinha acabado de snifar duas linhas da mais pura coca e estava pronta para tudo outra vez. Dirigiu-se de imediato para o meio da pista pois naquele preciso momento estava a tocar uma música que conhecia.
quarta-feira, fevereiro 18, 2004
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