A ocasião era desconhecida.
Lá estavam as suas conhecidas – as do costume -. Creio que as conheci naquele lugar.
Parecia uma vivenda com um estábulo acoplado com função indefinida, pelo menos no seu interior não se via qualquer objecto ou pessoa.
Telefonemas, cartas, mails caiam em cima dela. Eram como gotas de um chuva insistente. Tinha acabado de chegar de Barcelona.
Dizias que era de um amigo teu.
À tarde encontrei-te no dito estábulo com a Denise a fazer algo com umas cordas, não dei importância a isso, anunciaram-me que ele estava a chegar.
Fui-te avisar e respondeste-me:
“Eu não o convidei! Não sei o que ele está cá a fazer, disse-lhe para não vir. Não há nada para dizer.”
Alguém gritou: “ele está cá” – eras tu a correr para o telemóvel, ele na parte de fora à tua procura e tu escondias-te no estábulo.
Tinha um aspecto eslavo, tal qual aqueles que trabalham nas obras. Cabelo curto, ligeiramente acastanhado, liso, olhos castanhos e uma pele branca numa cara redonda.
Com ele um cão, à primeira vista pareceu-me uma labrador amarelo, tal e qual a um que vou ter, mas enganei-me, era uma cabeça humana num corpito de cão rafeiro. A face era grotesca, narinas enormes, boca entreaberta e umas orelhas esfoladas.
Mais uma vez escondeste-te, agora por trás da porta. Disse-te que agora tinhas que falar com ele, esclarecer tudo, pelo menos merecia a tua presença para se orientar em Portugal.
Daí partimos numa viagem ao supermercado, no jipe da Marta, que lá não estava, comigo a conduzir. Por obra de um santo qualquer a Denise trocou de lugar comigo e domou a fera e fez o resto do percurso.
O teu amigo andou perdido, todos faziam o possível para o ignorar, mesmo assim a sua presença era contada no carro onde lhe guardavam um lugar, sempre vazio ou uma cama na casa, que ele nunca conheceu.
Lembrei-me que nesse dia alguém fazia anos.
No super encontrei os meus pais e perdi-me de vocês.
Procurei-vos em casa e já lá não estavam.
Fui para a cidade, estacionei o carro num baldio a cinquenta metros do centro, indiquei a uns foragidos “o centro é já ali em cima à direita” e dirigi-me a uma taberna, anteriormente referenciada numa conversa.
Cá fora estava o russo que naquele momento me fazia lembrar o quaresma (reminiscências de um jogo de futebol onde havia um futebolista com o mesmo estilo). À sua volta estava pessoal do pólo, como os terá conhecido? Só me lembro que o Cotó veio ter comigo, disse não sei quê – basicamente nada – e deu-me umas chaves dizendo que elas estavam lá dentro.
Nesse momento houve um golo de Portugal, mas de hóquei em patins, mas todos pensaram que era um golo do Figo ou do Pauleta pois ao mesmo tempo decorria um jogo da selecção nacional de futebol, essa era a razão do jantar de pólo… e tinha sido eu a organizar.
Dentro da taberna encontrei-vos. Eu dirigi-me a ti e berrei pela falta de consideração que tiveram ao deixarem-me plantado no supermercado. Disseste que me tinham procurado por todo o lado e fartaram-se de esperar até que decidiram ir sem mim. “Como sabias o que estava combinado para a noite não havia problema… como se viu”.
A espaços fui sendo levado para fora da taberna, para o pé do jipe da Marta, as outras, já com o Quaresma ao seu lado e aceite no grupo, foram indo embora numa amena cavaqueira, fazendo tempo para subir ao primeiro andar de uma casa abandonada para apenas observar a sua janela.
Eu fiquei na rua para te ajudar a descer, segurava nas tuas coxas mas apenas consegui amortizar a tua queda com a minha cabeça. Ao mesmo tempo bati com os aros dos óculos no teu sobrolho – para quem visse de fora denotava que tinha sido o acto mais desajeitado na intenção falhada de um roçar de mucosas labiais descendo de um movimento natural e gracioso entre dois corpos desalinhados na essência. Culminou em gargalhadas e risos, entrecortadas de dores e olhos cerrados, movendo-nos separados na tentativa de apanhar o resto do grupo.
O telemóvel tocou, olhei para ele e já eram horas para acordar, a caminho da casa de banho o alarme do telemóvel tocou e acordei outra vez na cama a olhar para saber que horas eram.
terça-feira, fevereiro 03, 2004
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