Um dia escrevi:
Sou um copo meio vazio,
Enganei-me,
Estou repleto,
Até aos cabelos
(dizem uns)
De inutilidades que me preenchem
O corpo.
Inutilidades,
Grandes inutilidades,
Preenchem o vazio que lá existia antes,
E se surge um novo espacinho,
Vazio,
Lá vou eu preenche-lo uma vez mais,
Com inutilidades,
Da vida,
Da minha,
Das sem significado,
Ou existência.
Sem significado,
Ou sem existência,
E com o que me preocupo,
Dias a fio,
Meses,
Anos,
Segundos,
Mesmo antes de adormecer,
E não ligo a nada disso,
Mas por mais que ignore,
Lá se encontra,
No mesmo sítio,
A ocupar espaço,
Agora inútil,
Por não poder ser usado para mais nada,
Nem mesmo para ser revisto.
Quem quer rever uma coisa inútil?
Com eles me entretenho,
Ou me enfado,
Depende sempre da perspectiva,
Mas eu sei que estão lá,
E esse é que é o problema,
Eu sei que estou repleto de inutilidades,
E por mais que as identifique,
Já não as consigo apagar,
E não encontro uma maneira de as filtrar.
Sou como um vinil,
Só que ao passo de eles serem velhos,
Cheios de ruídos,
Ainda têm aquela substância de fundo,
(a que alguns chamam)
Musica
(outros)
Ruído,
Mas em mim só se encontra o ruído.
Há já muito tempo que ela desapareceu,
A musica da minha vida,
Nem sequer me lembro de a escutar,
Ou o ruído já é tanto,
Que estou destinado a ficar obcecado com ele,
E entreter-me com esse novo vazio,
Que são as inutilidades,
Na minha vida.
Não acordo alheado,
Estou com os pés bem firmes no chão,
Durante os meus sonhos,
Nada desaba quando abro os olhos,
Apenas sei que mais um dia,
Mais um dia de significados fúteis,
Me esperam,
Para preencher o corpo.
Estou bem cheio,
(Alguns dizem até aos cabelos)
De coisas,
Inúteis,
Para mim,
Eu que digo sentir e
Perceber alguma coisa desta vida
(presunçosamente)
Sei
(o que sei realmente?
Porque digo eu que sei
Alguma coisa?)
Ou não sei,
(assim poderá está melhor
Assim se preenche mais um espaço vazio
Com mais uma pequena inutilidade,
Mas eu sento-me enfartado depois disto,
Talvez a roçar de contente)
Que é assim que as coisas correm,
O perceber,
Ou fazer que se percebe alguma coisa,
Ou perceber que não se percebe nada,
Ou não se perceber que não se percebe,
Ou sei lá em que contexto me encontro eu neste momento,
Talvez sentado a escrever,
Inutilidades,
Das que preenchem a minha vida,
E o meu corpo.
quarta-feira, outubro 27, 2004
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