quarta-feira, novembro 17, 2004

nada disto interessa

Olhas para os lados,
Um mar de gente,
Alheios a ti,
Prosseguem nas suas escadas rolantes
- como que a pedir ajuda para os guiar –
Tu também te deixas
- guiar pelos outros –
E nada fazes para os contrariar.

Não os ouves,
Nem eles,
- mas o que é que isso interessa?
Dizes tu
Realmente nada.
Respondo,
Nada interessa -.

Escondes os ouvidos,
Não por vergonha
Mas para os proteger,
- não do frio -
Mas do ruído que os outros fazem,
- tudo o que os outros fazem é-te ruído,
Não te condeno,
Não o posso,
Também és ruído para mim -.
Colocas uns phones,
Pressionas o play,
E nada mais existe para além disso.
E como tu dizes,
Nada mais importa!

Passas pelas pessoas,
Como se de objectos fosse,
E repugnam-te.
O único desejo que tens,
-quando as vês –
É que chegues depressa a casa
- onde quer que isso seja.
A ninguém importa,
Somos todos iguais,
Uns para os outros,
Ignoramo-nos,
Aos outros e a nós próprios,
- mas o que é que isso me interessa?
Perguntas tu,
Não sei,
Respondo eu,
Ninguém sabe de nada,
Nunca ninguém sabe nada,
Apenas daquilo que lhes interessa,
Do resto nada lhes interessa,
A ti nada te interessa do que aos outros interessa,
Como a todos.

Vai, vai para casa,
Foge e esconde-te no teu covil
E que tenhas medo de sair de lá,
Que sintas medo que te invadam o teu espaço,
Como se isso interessa-se a alguém,
Somos todos iguais a ti,
Alheios aos outros,
A falar para o próprio umbigo,
Sem nada sabermos dos outros
E não nos importarmos com isso,
Mas o que é que isso interessa?
Perguntam-me vocês,
Realmente nada
Penso eu,
Mas se assim é porque nos incomodas com estas questões?
Interrogam-me
Não sei, talvez me interesse?
Sinceramente não sei,
Talvez me interesse,
Por estas questões,
Pelos outros,
Para além de mim,
Talvez me engane a mim mesmo
- com ares de altruísta –
E apenas quero o que me interessa
E todo o resto me seja alheio,
Como os outros
- mas continuo com esta verborreia continua
Traduzida nestas palavras,
E elas não se calam na minha cabeça,
Porque será isto assim?
Estarei eu avariado?
Terei eu que mudar alguma válvula ou correia de transmissão?
Será que o meu corpo se arranja como um automóvel?
Mas o que é que isto interessa ao outros?
NADA!
Confirmam-me vocês peremptoriamente sem qualquer tipo de emoção na vossa (con)afirmação.

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