terça-feira, dezembro 30, 2003

Trabalho de campo

Tinha escolhido a ilha de Amantani por diversas razões.
Uma era porque tinham mantido as suas tradições, falavam ainda quechua, como sua língua mãe – alguns até tinham dificuldade em falar em castelhano – e por ser uma ilhota situada no meio do lago Titicaca, a três mil e oitocentos metros de altitude, isolados tanto do Peru como da Bolívia. A ilha era um estado dentro de outro estado, pelo menos era assim que se sentiam os seus habitantes.
Isto eram as condições perfeitas para realizar um estudo semelhante ao dos primeiros antropólogos, quando se estudava os “povos primitivos”. Este seu interesse pelos primórdios da disciplina que tinha decidido estudar na universidade, onde os nomes como Malinowski, Evans-Pritchard, Margaret Mead, Durkheim, Lévi-Strauss e muitos mais figuravam nessa sua lista imaginária, tinham aparecido cedo na sua carreira académica. Tinha entrado no curso por mero acaso, nem primeira escolha tinha sido e completamente ignorante do que realmente se tratava. Ao deparar-se com as obras desses grandes Antropólogos, a sua vida mudou e encontrou o seu significado, da sua vida: ser antropólogo. A ideia de viver no meio de comunidades pouco tocadas pelo “mundo moderno”, desconhecidos pela maioria das pessoas, eram-lhe um atractivo demasiado forte para poder fazer uma escolha racional sobre que rumo deveria seguir a sua carreira como antropólogo.
Ainda pensou no Brasil e nos seus índios perdidos no meio do matagal denominado Amazónia, mas isso já era uma moda, todas para lá queriam passar umas férias, o que ia contra os seus ideais. Tinha que prosseguir as grandiosas obras que os “antigos” tinham começado e era sua função tentar acabá-las.
Encontrava-se na ilha há dois anos, de uma forma quase interrupta, as excepções, breves, foram devidas a imperativos académicos, que o obrigavam a deslocar-se a Lima ou a Portugal para contactar com o seu coordenador de tese.
Devido a isso, ao grande esforço que realizou para se tentar integrar nesta comunidade, a sua compreensão e fala do quechua estava bastante evoluída, a sua família de recepção já o considerava parte dela, fazia os mesmos trabalhos que os outros homens da casa e só lhe faltava expandi-la, através da sua união a uma rapariga de uma família com o mesmo estatuto que a sua família de recepção. Não sabia se deveria dar este ultimo passo, até que ponto isso não lhe afectaria o trabalho antropológico e se era moral e eticamente aceitável num trabalho de campo. Nunca revelou estes pensamentos ao seu coordenador, de certo que ele não iria compreender, a não ser que fosse o próprio Malinowski ou Levi-Strauss, mas como isso não era o caso. Era apenas um patético pseudo-professor de antropologia, assim lhe chamava ele, da sua universidade.

A família que o recebeu era constituída por cinco pessoas. Olga, casada com Joaquim há dois anos. Já tinham três filhos, um de oito, Vidal, outro de cinco, Eloy e o mais novo com apenas dois meses que era a Udid. Nunca chegou a saber se os filhos eram do mesmo pai. Tanto Olga como Joaquim, mais este, eram reservados e não falavam muito, só em algumas situações especiais em que tinham a necessidade de contar o que se passava, o que sempre envolvia algum acontecimento do passado.
Um desses dias aconteceu quando a mãe de Olga lá tinha ficado para o jantar. Quando chegou a casa, já ela se encontrava a falar com a filha e a chorar. Não perguntou nada, fingiu que não tinha visto nada e saiu da cozinha. Mais tarde, há hora do jantar, Olga contar-lhe-ia, também quase a chorar, a razão da sua mãe ter estado a chorar. Pelos vistos o seu pai sofria do estômago há já alguns anos e que se tinha vindo a agravar com o tempo. Naquele dia estava particularmente mal e ninguém sabia a causa disso, nem mesmo o seu médico. Já tinham consultado curandeiros, mas nenhum dos seus tratamentos resolvera a situação. Ambas sentiam que iriam perder este ente querido muito em breve.
Com histórias destas, recebidas ao longos dos seus dois anos de estadia naquela ilha, já sabia grande parte dos segredos da ilha, da sua comunidade e de algumas famílias mais próximas. Quase que poderia dizer que era um “amantani”.

Com dois anos de estudo, estava na hora de partir e escrever o seu trabalho sobre esta gente, com quem tanto simpatizou e onde se sentiu integrado. Se constituísse família, sabia que nunca mais sairia daquela ilha, nunca acabaria a sua tese e teria desperdiçado o dinheiro da bolsa, recebida para esse efeito, o que provavelmente seria reclamado pela instituição que a tinha fornecido.
Sentado em Pachamama a observar o pôr do sol, um hábito que tinha adquirido nos últimos meses, pensava sobre todos estes assuntos à procura de respostas e soluções, das quais ainda não tinha encontrado nenhuma. Por mais pedidos que fizesse, tanto ao seu deus europeu como aos do sol Inca e meditações, nada parecia ter resultados práticos.
Partia nesse dia igual aos dias anteriores, vazio, sem respostas para as suas perguntas. Amanhã voltaria para assistir, mais uma vez, à queda do sol sobre o lago Titicaca à procura de respostas, mas se não as recebesse sempre sabia que não sairia dali totalmente desiludido, pois o seu espírito ficaria mais tranquilo depois, tal como a paisagem que tinha a oportunidade de observar agora.

ex-alcoolico

“Sou um ex-alcoólico. Foi muito importante para mim tê-lo sido.”
Quem dizia isto era um homem na casa dos trinta, com um fácies de índio por descendência, dos Incas, assim supomos, cabelo preto e fino, a tapar as orelhas – que constantemente atirava para trás, com gestos graciosos, numa mulher -, uma pele escurecida, olhos castanhos escuros, a condizer com o cabelo e uns dentes reluzentes da sua falta de saúde – uma capa de prata envolvia os seus dentes da frente, como que de uma armadura fossem, com um conteúdo já putrefacto no seu interior, de cor escurecida, apenas existentes devido à sustentação fornecida por este invólucro de brilho metalizado.
Cactos era o seu nome, não era castelhano, era a tradução fonética de um nome quechua, do qual não sabia o significado, ninguém o sabia, pois ele dominava essa língua, era a sua materna, em sua casa só se comunicava nessa língua, tinha muito orgulho de ser um descendente da cultura Inca. Possuía uma loja de artesanato, era um ex-alcoólico orgulhosos, vangloriava-se por se sentir um exemplo vivo para os seus pobres compatriotas, de como se pode fugir ao mais provável, isto é, ser-se alcoólico e sem trabalho.
No primeiro dia que o conheci disse-me que trabalhava com cento e cinquenta artesãos, todos da zona da cordilheira de onde nasceu, San António e mais alguns “pueblos” ao redor de Puno, uma cidade que é banhada pelas águas do grande lago Titicaca.
A sua função principal, na sua perspectiva, era incentivar estas pobres pessoas a usarem o que demais tradicional tinham, que era o artesanato, que por sua vez preservava o pouco da cultura Inca que ainda persistia em não perecer, sem terem noção de que isso faziam. Mais tarde conseguiria que tivessem orgulho em ainda poderem-se considerar Incas.
Felizmente, para si e para os seus artesãos, que os turistas apreciavam muito os seus produtos, sendo um negócio lucrativo para todos e todos estavam agradados com a união.
Nesse mesmo dia, com o seu paleio, conseguiu-me vender uma camisola de lã de bebé alpaca, feita por “Isabel Pochita”, dizia ele. Ainda fez um pequeno desconto, mas mais tarde comparei com artesanato semelhante e deparei-me com preços mais baratos. Acho que a conversa encantou-me e por isso atribuí e continuo a atribuir, mais valor do que tinha. Não é uma camisola qualquer, é uma camisola com uma história por trás, feita pela “Isabel Pochita”, que lhe atribui uma valor incalculável.
Uma vez perguntei-lhe se tinha filhos, ele sorriu, riu-se e disse:
“Eu nunca me casarei. Serei sempre livre.”
Estranhei, num país conservador como o era o Peru, ele ter dito isto, mas nunca se sabe, ao princípio, o quanto de verdade nos contam. Podia ser tudo mentiras.
Não insisti mais com ele, até porque ele começou a falar, mais uma vez, do seu trabalho, no orgulho que tinha de ter sido um alcoólico e na grande obra que estava a fazer com os seus camponeses. A cultura Inca haveria de reaparecer, acreditava ele.
Muitas foram as ocasiões em que tive a oportunidade de trocar dois dedos de conversa com ele, tanto na sua loja, por onde passava todos os dia, como das muitas vezes que o encontrava nas ruas de Puno a vaguear. Certo dia, sem aparente razão, disse-me que tinha conhecido um português em tempos. O início da conversa foi tímida, apenas referiu que tinha sido em Yacucho, num congresso sobre folclore onde umas artesãs suas conhecidas tinham ido, vestidas a rigor pelos costumes Incas, fazendo inveja aos outros descendentes Incas vindos um por pouco de todo o lado – Chile, Argentina, Bolívia, Equador e Brasil. Dizia que o achou logo muito simpático e muito comunicativo. A reunião durou três dias e nesse curto espaço de tempo o relacionamento entre eles foi sempre crescendo, chegando ao ponto do português lhe dizer no ultimo dia o seguinte:
“Vou contigo para Puno, quero conhecer onde vives e como se vive no Peru e mais precisamente na tua cidade. Pago-te tudo, a viagem e tudo o resto, serás o meu guia.”. Não lhe conseguiu dizer não, o que lhe veio a proporcionar momentos que nunca pensaria que seriam como foram. “Portugues mucho loco. Diós mió, mucho mucho loco!”
O português, no final de contas, tinha-se apaixonado por ele, mas era um homem com demasiada pedalada para ele. Eu perguntava-lhe o que queria dizer com louco, mas ele apenas sorria e nada dizia. Os gestos que fazia, ao falar sobre o seu português, as risadas que mandava para o ar, o brilho emanado pelos seus escuros olhos e as palavras que não existiam para descrever o que se passou davam apenas uma expressão do que se poderia ter passado. Muito devem ter falado sobre a cultura Inca, que ele era orgulhoso de pertencer.
Mesmo depois de se terem separado, continuaram a contactarem-se, durante algum tempo, inicialmente por cartas e alguns telefonemas. Mas já há alguns anos que nada sabia dele, nem uma palavra trocavam. Sentia a falta dele:
“Tenho que lhe escrever uma carta…mas não sei o que lhe devo dizer, nem por onde começar… apenas como quero acabar a carta.”, e esta frase, que o ouvi dizer uma par de vezes depois desta conversa, confirmava isso.
“Se a escrever, entrega-lhes a carta em mão? Poderias-me fazer esse favor?” perguntou-me ele no meu ultimo dia.

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Maria Ambroce

Sentada à beira de um precipício, costas voltadas para a garganta funda do vale e as pernas a baloiçar juntamente com o movimento de fiar.
À volta não se vê nenhuma figura humana, apenas uma cadela prenhe, enrolada aos pés da senhora, contente da vida.
Ela era pequenita, não mais de um metro e cinquenta, pele escura, por natureza mas também trabalhada pelo sol das alturas, rugas sulcadas como vales na sua fronte e face, uma réplica, em miniatura, dos socalcos que se viam nos montes em frente, nada que disfarçasse a sua idade, apenas a realçavam.
Seu nome é Maria Ambroche, setenta e um anos, nascida em Chibay, apenas, porque sempre fez a sua vida em Maca.
Parecia isolada naquela estrada de areia e pó, circundando as montanhas como um fino fio que a enfeita, como uma arvore de natal. A figura destacava-se pelo seu contraste.
Por aquela estrada, todos os dias, passavam pequenas carrinhas repletas de turistas, desejosos por ver condores, a mítica ave com uma envergadura capaz de tapar o sol.
Mas não eram os turistas que lhe interessavam, é claro que um sol (dinheiro) dava sempre jeito para as suas fracas poupanças e era bem vindo na sua bolorenta carteira vazia. Ela esperava os seus compatriotas, os que guiavam as carrinhas e os estrangeiros, esperando que eles se lembrassem de ter trazido umas folhas de coca a mais, para que ela pudesse matar as saudades, mascando-as. Há muito que era proibido planta-la, na sua região, o estado tinha medo que eles procurassem dinheiro fácil, mais fácil que o dos turistas..
O seu castelhano não era o mais correcto, a falta de dentes piorava a sua dicção, para além de com os anos mescla-lo com a sua língua nativa, o quechua. Na a sua idade, que não era muita, já não era normal que as pessoas da sua idade, no seu país e mais concretamente na sua região, interessarem-se por aprender coisas novas, mas ela não era assim e por isso transportava sempre consigo um livro de “Como aprender inglês em dez lições”, oferecido por estrangeiro mais atencioso, para que pudesse falar com os turistas e distrair o muito tempo livre que tinha. Tinha adorado e todos os dias tentava aprender algo novo na nova língua, mas infelizmente não sabia ler, o que não lhe fazia confusão nenhuma, pois o livro estava repleto de desenhos. Mostrava orgulhosamente o livro a todos os turistas que via.
Como gostava de conversar e detestava repetir estórias, tinha um certo prazer em inventar novas. Ela contava e os guias traduziam, mas também a escutavam, porque cada dia com ela era um dia diferente.
Neste dia estava particularmente aérea e contou como tinha um marido muito mais novo, com cinquenta anos e isso tinha uma razão de ser. Quando era mais nova, tinha-se fartado de escutar histórias sobre maridos que batiam nas suas mulheres, o que não lhe agradava nada. Com medo que isso também lhe acontecesse, só casou aos trinta e um anos com um rapazito de dez, que por ser tão novo, primeiro foi uma mãe para ele, educando-o como se de um filho fosse e só depois veio a ser verdadeiramente seu marido, mas como isso se misturava com um sentimento de uma mãe que ela lhe tinha sido, tinha mais respeito e nunca lhe fez ou faria mal.
Os turistas e guias estranharam a historia e a diferença de idades. Especularam que ela devia estar demente, ter-se confundido nas idades ou que o marido actual era um segundo ou terceiro marido.
Ela não se importou com isso. Conseguiu as folhas de coca, que já as mastigava deliciada e alguns sóis dados pelos turistas mais entusiasmados, que muito riam, tiravam fotos e perguntavam através dos guias, coisas sobre a sua vida. Depois foram-se embora com um sorriso na boca e acenar adeus, a dizer a única palavra que deviam saber em castelhano “adiós”.
Pouco passava do meio dia, o sol escaldava mais que há uma hora atrás, sentia-o no chapéu e na lã quente que fiava.
O seu burro reapareceu no meio de um socalco, bem lá em baixo, perto do rio Colca, provavelmente a tentar matar a sede. Lembrou-se que também tinha sede e a boca dormente devido às folhas de coca.
Arrumou a lã fiada, chamou pela cadela e rumou pela estrada que lhe iria conduzir ao seu burro e mais tarde a casa, onde o seu marido, vinte e um anos mais novo, a esperava, provavelmente.

domingo, dezembro 28, 2003

Água Termal

No meio do vale, ao ar livre e apenas de calções de banho, a absorver a paisagem que crescia pelos montes, rodeando as águas termais, que se encontravam 40ºC.
Como a temperatura era em demasia, mesmo estando apenas 10ºC no exterior que o cercava, tinha que permanecer com metade do tronco fora de água, para dissipar algum calor e sentir-se confortável. Era uma sensação nova, usufruir de duas temperaturas contrastantes e sentir-se, bem, no meio delas.
Decidiu pôr a cabeça debaixo de água e nadar até ao outro lado. Durante o seu percurso, contemplou as “bifas” que faziam o mesmo que ele, umas férias de rei.
Sendo ele natural do Algarve, estava mais habituado a desprezar estas pessoas, que todos os anos o “visitavam”, a quem ele chamava pelo nome de “bifas”, do que aceita-los como seus iguais, como naquele momento. O nome com que os descrevia, “bifas”, derivava de um comum bife porque eram uma comida fácil, melhor, eram umas presas que se ofereciam aos seus predadores.
Agora era ele que se tinha tornado num “bife”, para as pessoas do país que visitava, habitantes de zonas inóspitas, mas com paisagens maravilhosas e com termas ao ar livre, a uma altura de três mil e oitocentos metros. Os “bifes” eram desejados pelos habitantes pelo dinheiro que traziam e ali escasseava.
O seu papel tradicional estava invertido, mas continuava a admirar os outros estrangeiros, principalmente os de origem europeia, como “bifes” a abater. Ele continuava a ser um predador e elas as presas, ávidas de serem devoradas, tipo fast-food, que se come e deita-se fora.
O pequeno trajecto por si realizado, até ao lado oposto onde se encontrava na piscina termal, tinha vários intuitos:
Observação subaquático; ver de forma mais detalhada e próxima as presas e tentar apanhar um olhar mais lascivo, facilmente captado por uns olhos que se moviam conjuntamente com o seu movimento.
Debaixo de água deparou-se com alguma fruta madura, pronta para a ceia de natal que se avizinhava, mas o problema é que os únicos olhos que o seguiram foram a de um protótipo de loiro, alto, bem constituído e pele muito branca, que já tinham em diversas ocasiões tentado fazer contacto.
Exasperado com a queda da sua honra masculina, de não ter sexo há mais de duas semanas, goravam as suas expectativas de uma férias de sexo exótico e barato. As únicas perspectivas que conseguia ver, naquele momento, eram a de um nórdico peludo nas suas costas, o que era uma ofensa para o seu machismo algarvio.
Deu uma ultima braçada de volta ao outro lado da piscina, já a pensar em ir embora, quando num momento de distracção esbarrou com a sua face no meio de um par de seios. Ela apareceu do nada, nem sequer tinha dado pela sua presença, surpreendendo-o, tal como um pequeno rubor, de embaraço, na sua face. Atrapalhou-se e pediu desculpas, por entre os dentes, sem se aperceber que ninguém, provavelmente, o perceberia.
Ela, sem nenhum indício de desconforto, era uma rapariga segura do seu potencial, dirigiu-se a ele:
“What?”
“Sorry, it wasn’t my intention.”
“Intention of what?”
Nessa altura olhou para a rapariga, pela primeira vez, apercebendo-se do peixe que lhe tinha saltado para a cana, quando nem sequer tinha isco ou o anzol dentro de água.
Desistiu da ideia de ir embora e ainda permaneceu mais uma hora naquele vale, cada vez mais maravilhoso.

sábado, dezembro 27, 2003

Ser um guia turistico

Urbe era um guia turístico. Ia-os pegar nos seus hotéis luxuosos e depois rumava para o meio do nada, algures nos Andes, dizendo que o paraíso era para lá. Eles confiavam.
Lá, no sítio a que ele se referia como o paraíso, as aves voam nos profundos vales, onde o pôr do sol e o seu nascer são imagens como nunca dantes vistas, pela sua beleza e onde a lã, de qualidades diferentes, aquece todas as almas – mesmo a das mais desconfiadas.
A viagem é realizada numa carrinha com nove lugares, galgando terreno ora asfaltado ora simplesmente por cima da desnudada terra. Algumas vezes, por infortúnio, passava por cima de uma bicuña ou alpaca, mas eram azares só para os pobres animais e seus donos, porque os turistas transbordavam uma excitação alegre com essa “aventura”.
Como poucos eram os turistas que dominavam a sua língua, teve que aprender inglês, por correspondência. No final conseguia transmitir o que queria e satisfazer os desejos dos seus clientes, mas sabia que cometia erros grosseiros na sua fala, mas não tinha dinheiro nem tempo para a aperfeiçoar. As cinco bocas esfomeadas que o esperavam em casa, não lhe davam validade para qualquer tipo de liberdade. Estavam sempre a demandar mais comida e só ele é que a arranjava.
A viagem, já a fazia há cerca de oito anos – apesar dos seus vinte e cinco anos -, era passada em vales e montanhas inóspitas dos andes, a alturas que faziam as cabeças dos turistas estoirar de cansaço e alucinações mirabolantes. Dava-lhe um gozo especial vê-los nesse estado.
Viam lamas, alpacas, bicuñas e outros animais, bebiam mate de coca e mastigavam as suas folhas. Faziam caras estranhas ao saborear o seu suco acre, que ele lhes dizia serem bons para o mal das alturas. Como estava habituado, desde miúdo, era uma tradição milenar do seu país, o sabor já não lhe afectava. Para ele era como se fosse um doce para os turistas. Todos experimentavam, eram umas autênticas ovelhas que o seguiam. Nestes momentos sentia-se um pastor a guiar o seu rebanho.
Mas ele não se comprazia apenas com os males dos outros, sentia também uma deliciosa felicidade ao ver a alegria que conseguia transmitir a estes turistas, pois isso estava ligado às suas volumosas carteiras e às chorudas gorjetas que a isso podiam proporcionar. Tudo o que fazia, mesmo as coisas que iriam amargurar a boca dos turistas, tal como as folhas de coca, eram experimentados, por ele, com um grande sorriso de inocência, pelo menos era assim que eles, os turistas, o interpretavam.
Tudo no caminho estava organizado, os cafés e os restaurantes onde paravam, eram de amigos ou familiares, de onde recebia sempre uma comissão. Só tinha pena de não puder contratar condores para que eles voassem a horas determinadas, isto porque eram incorruptíveis, planando apenas quando lhes apetecia, o que por vezes estragava os planos da viagem e a sua gorjeta.

Tinha vinte e cinco anos, mas já estava cansado desta vida. Queria assentar, ter uma casa e dinheiro certo todo o fim de mês, para depois puder descansar no final do dia sem se preocupar com o dia de amanhã e uma vez por ano passar férias no mar, que nunca tinha visto, juntamente com a sua família. O seu sonho era um dia poder ser um turista nos países de onde eram os turistas que guiava.
Inveja crescia no interior do seu ser, cada vez mais via os turistas como meros objectos a extorquir, onde não havia nenhuma imoralidade em tentar tirar o maior proveito deles, mesmo até roubar.
… a inveja crescia, de não puder ser como eles.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

Vi o Che numa manifestação

Passeava, mas parecia um zombie. Pele muito branca, grandes goteiras escuras caiam por debaixo dos seus castanhos olhos, que pareciam estar a boiar no meio de um charco de sangue, o vermelho de artérias salientes e engurgitadas. As pernas moviam-se com dificuldade e não sabiam por onde obrigavam o corpo vaguear.
O sono estava em divida, devia um noite bem passada e não uma noite em claro, como a do dia anterior, passada dentro de um autocarro, todo luxuoso, com ar condicionado, televisão e refeição, mas que não parava de seguir por estradas demasiadamente tortuosas. O motorista estava ansioso por chegar, não poupando o acelerador e por consequência, os passageiros que seguiam com ele.
Como é óbvio, não foi difícil não adormecer. A cabeça flutuava de um lado para o outro, sempre a bater em qualquer sitio, na janela ou no vizinho do lado.
Lá fora, uma escuridão demasiado negra, que até as estrelas apagava. As luzes do autocarro iluminavam um pequeno terreno à sua volta, mas era sempre a mesma coisa, areia, pedras e rocha. Não havia casas ou luzes artificiais visíveis.
Ressentia-se agora, apesar da hora matutina, dez e meia da manhã e mesmo depois de já ter saído do autocarro. Continuava a caminhar nessa densa luz negra, a mesma que encontrou na viagem de autocarro, sob um sol abrasante que já torrava a sua tez de lixívia.
Uns pequenos zumbidos chegavam aos seus ouvidos, gente a gritar, cartazes, polícia de choque, todos no mesmo sítio, na plaza de armas.
Alguém lhe puxou a mochila, desapareceu na multidão e nunca mais apareceu.
Ao mesmo tempo a polícia de choque e os grevistas começaram a misturar-se de uma forma brutal. Já ninguém sabia quem era quem. Voava sangue, dentes, gritos de desespero e excitação. Alguns turistas tiravam fotos, contentes por ali estarem, alheios ao sofrimento. Não era o deles, por isso não lhes interessava.
Havia alguns ingénuos que pensavam puder dar termino aquilo com meros gritos: “Calma! Pára!”, mas não servia de nada, as gotas de sangue continuavam a voar, os cacetes zumbiam e uma mancha vermelha depositou-se na sua camisola da “Inca Kola es nuestra”.
Deu meia volta e voltou para o hostal onde tinha uma reserva em seu nome. Podia ser que depois de dormir o mundo se transformasse num sítio melhor de se (vi)ver.

quinta-feira, dezembro 25, 2003

Gustavo Nazca

Gustavo Nazca, quarenta e quatro anos de idade, peruano por obrigação e nazcaeño por adoração e nome.
Quarto filho de uma matilha constituída por dez irmãos. Os pais não eram os mesmos, mas era-lhe indiferente, desde que o deixassem em paz e não o aborrecem-se muito com os seus afazeres.
Como vivia a vinte e cinco quilómetros de Nazca, uma região árida a uns trezentos quilómetros de Lima, para sul e a uns cinquenta quilómetros da costa pacifica, percorria regularmente o caminho pedregoso que unia a sua aldeia à cidade, para poder frequentar a escola. Desde muito cedo que agarrou o habito de se perder por aquele deserto, onde a chuva apenas chegava duas vezes por ano, com uma duração de apenas cinco minutos, onde tornaditos eram constantes, as montanhas de diferentes cores cercavam-nos e onde misteriosos trilhos atraiam-no.
Foi numa dessas suas tardes de solidão que pela primeira vez observou aquela mulher, totalmente vestida com uma túnica branca, a vaguear, como ele, pelo deserto e seus trilhos.
Perguntou a muita gente, da sua terra e em Nazca, quem era aquela figura, mas a maioria não conhecia ou dizia que era uma alucinação sua, provocada pelo sol. Mas ele sabia que ela era verdadeira, pois já a tinha visto mais vezes durante as suas caminhadas, quando não lhe apetecia ir a escola.
Uma noite, quando já se encontrava na cama e quase a sonhar, ouviu o seu padrasto, muito agitado, a chegar a casa, tudo devido ater quase atropelado uma senhora – “Gringa Louca” -, gritava ele constantemente. “Gringa louca de branco” e não parava de perguntar porque andava ela sozinha no meio do deserto, com uma túnica branca. Que tinha aquela gringa maluca para fazer ali? “Gringa louca”.
Desde aí que a sua alucinação se materializou numa figura material de nome “Gringa Louca”. Por aquela altura já todas as pessoas das populações à volta tinham conhecimento de quem ela era. Quase toda a gente se tinha deparado com ela, pelo menos uma vez, a deambular pelo deserto.

Com o passar do tempo, foi encontrando-a com maior frequência, mas mesmo assim nunca se atreveu a falar com ela, só alguns anos mais tarde. Na verdade nunca falava com ela, apenas tinha ganho o direito de a escutar.
Ainda se recorda do dia em que trocaram as primeiras palavras. Esbarraram, literalmente, um no outro. Percorriam a mesma linha, mas em sentidos opostos, ambos alheados do que se passava à sua volta. Sozinhos, nos seus pensamentos, nem sentiram o outro aproximar-se, só quando as suas cabeças chocaram.
“Desculpe!”, disseram simultaneamente.
Ela era mais velha, bem mais velha que ele, era alemã, mas falava fluentemente castelhano. Só percebeu isso mais tarde, pois inicialmente ela mal lhe falava.
A maioria dos dias, após este acidente, apenas trocavam um mero “Olá!” e caminhavam juntos pelos mesmos trilhos. Agradava-lhe a ideia de ter alguma companhia nestas suas caminhadas, mesmo que silenciosas, mas foram-se transformando aos poucos.
Ela começou a aceitar, por completo, a sua presença ao seu lado, mas isso nunca realmente lhe proporcionou um dialogo. Ele tinha a perfeita noção, mesmo sendo novo como era na altura, quando podia falar ou quando devia ficar calado. Ela falava, sem parar, parecia que divagava em voz alta, para ele escutar. Foi aí que ouviu falar pela primeira vez num possível significado que poderiam ter essas linhas, que ele se lembrava existirem desde que nasceu, mas nunca se tinha questionada sobre quem os tinham feito e o porquê deles existirem. Nunca ninguém se tinha questionado sobre isso na sua aldeia, pelo menos que ele soubesse.
Pelos vistos, dizia ela, tinham sido feitas pelo povo Inca e que elas tinham vários significados. Para além disso, estes riscos que seguiam quase todos os dias, desenhavam figuras, que apenas podiam ser vistos do ar ou de sítios mais altos. Havia um sítio onde se podia observar uma aranha, noutro umas mãos, dizia ela, mas ele nunca realmente as viu nessa altura, não questionava nada do que ela dizia, senti-se totalmente encantado com a sua personalidade. Esses desenhos, de que ela falava, eram os animais que os deuses Incas mais estimavam e que não só cumpriam a função de homenagem a eles, como permitiam aos agricultores saberem quando deviam semear, através do posicionamento do sol sobre as linhas.
Mais tarde, quando já tinha alguma idade para pensar por si, começou a duvidar das ideias dessa sua companheira de caminhadas, sem perder o fascínio que ela exercia sobre ele. O sol deve ter-lhe torrado a cabeça, pensava ele. Devia ser por isso que passava a maioria do seu tempo a passear, há já uma década, por aquele deserto, depois de ter abandonado o seu país.

Com o aparecimento da puberdade, o número de passeios que fazia foram-se reduzindo, as namoradas exigiam tempo e os estudos passaram a ter mais peso na sua vida, pois pretendia ir para a universidade. Conseguiu entrar e por isso teve que ir para Lima estudar. Tinha escolhido arqueologia e mais especificamente sobre a cultura Inca.

O deserto tinha sido largado para trás no tempo, sem ser imaginado como um futuro, que se viria a tornar como o seu campo de estudo, os trilhos de sua infância e as teorias da “Gringa Louca”, entretanto morta e com um novo nome, Maria Reich, antecedido pela palavra arqueóloga, com direito a um museu próprio, no meio da cidade de Nasca.

terça-feira, dezembro 23, 2003

40ºC de temperatura

Sentou-se, inclinou-se, elevou as pernas, baixou o tronco e deitou-se esticada na rede que o jardim do hostal fornecia. Ao lado, uma piscina, mas não a viu, o sono estava dois passos à frente de tudo.
Acordou, eram três horas da manhã, suava, tinha sede e estava num país tropical. Mais uma vez estava a ter uma recaída de malária. Por mais tratamentos que fizesse e precauções que tomasse, aparecia sempre, sazonalmente.
Levantou-se, pegou na mochila e pegou no repelente, por descargo de consciência – “pode ser que agora resulte”.
Dirigiu-se ao quarto, a custo, tomou três aspirinas, um banho de água tépida, pôs o repelente na tomada eléctrica do quarto e deitou-se nua sob os lençoís brancos da cama, já banhada no seu suor, outra vez.
Os seios estavam gastos e descaídos, as ancas largas demais, a celulite saltava a cada centímetro. Era nova mas sentia-se como uma velha. Visões alucinadas de uma febre de 40 ºC que teimava em não desaparecer.
Passou a mão pelo púbis, simulou um inicio de masturbação, que rapidamente repudiou por falta de vontade.
Apagou a luz, meteu-se debaixo dos lençóis, alagados no seu suor e tentou adormecer.
Antes de conseguir faze-lo, ainda teve tempo para ouvir, sobressaltada, o zumbir de um mosquito. Acendeu a luz e ficou uma hora à procura da dita cuja. Por fim encontrou-a pousada na parede, onde permaneceu, depois, como uma bela mancha vermelha, de sangue, provavelmente do seu.
Adormeceu pouco depois, com a consciência limpa de mosquitos e a pensar que amanhã tinha que ir ao médico e reabastecer a sua bolsa com mais aspirinas. Independentemente disso, prosseguiria com a sua viagem.

Jogo de espelhos

Acabei onde tudo começou, no EU.
O ciclo indeterminado que todos representam.
Apenas um mero jogo, dizem alguns, onde outros discordam. Para estes tem de ser algo mais que um mísero jogo. Se levas a brincar, deves ser eliminado e expulso do ciclo privilegiado.
Onde entra o EU, no meio de tudo isto? No jogo de se ser o EU, que outro forneceu, o que deixa de ser o EU, para ser outro, portanto o TU. O EU tornasse num TU.
Mas se o TU é fornecido por outro EU, supostamente, que como vimos é um TU, quem será o EU inicial?
É tudo um jogo de espelhos onde um apenas reflecte um outro, para outros. Se o jogo não acaba, como pode ter fim ou inicio?
O inicio foi uma cusqueña, seguida de outras, em castelhano, quando o português, seria supostamente, a língua mãe.
No final, da cusqueña e do EU e TU, a culpa é da língua mãe por ter uma palavra como o EU, o que quer que isso seja.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Seja bem vindo à Inca Wasi

Tudo certinho, tudo marcado, sem nenhum pé fora do trilho delineado, sem desvios.
Na barriga, meio menu e não é por falta de dinheiro, apenas pela simples razão de ser mais que suficiente. O prato vem cheio, a transbordar comida pelos seus bordos, que são a finalização de uma pirâmide de amontoadas iguarias, coisas boas, picantes, com molho, cogumelos e outras a saber a arroz chinês. Boa boca têm eles.
Estou-me a desviar do assunto. Estou velho, já não corro riscos, os carros passam lá fora com os seus ávidos motores podres, sirenes de polícias, separados de mim por paredes confortáveis que albergam a minha cama, conseguida depois de mais de duas horas de regateio. A mulher era de peso.
Pocha, uma alcunha bastante vulgar por aquelas bandas, era uma crioula de trinta e cinco anos, forte, bastante forte, ainda com alguns traços incas nas suas feições, nariz bastante alargado no meio da face. Fisionomia bastante afastada da beleza grega, a que estava habituada na Europa, o seu cabelo era encaracolado, o que viria a verificar que não era muito comum, que caiam sobre os seus ombros, sem as típicas tranças, muito comuns nas gentes da montanha..
A sua presença intimida qualquer um. Voz forte como companhia, perfeita, ao seu físico. Mesmo assim possuía uma variedade de poses, que à primeira vistas não esperaríamos encontrar numa mulher com este porte.
O seu olhar é perspicaz, consegue avaliar a carteira, o seu peso em oiro, de qualquer turista. Para além do seu desespero, as vontades e quanto estão dispostos a desembolsar, saindo sempre, o turista, com a certeza de terem feito um bom negócio, apesar de saírem, quase sempre, de lá extorquidos.
Era esse o seu trabalho. Nada a comovia ou a demovia do seu trabalho, nem mesmo um turista “pobre”, apenas conseguiam ser um pouco menos chulado. O seu lema era :
“Sairá daqui seguramente chulado!”.

“Bem vindo à Inca Wasi, os seus desejos são meu desejo serem aqui realizados. Seguramente a melhor agência no Peru.” Diz ela a todos os seus clientes, com um sorriso falso, que camufla as suas intenções.
Estou velho, já vou no comodismo das cantigas!

domingo, dezembro 21, 2003

Febre de causa desconhecida

“’tou toda suada. ‘tá um calor!”
“Nem por isso.”
“Acho que estou com malária, só pode. Como é que já apanhei se só cá estou há cinco horas?”
“Acho que não podes ter. Acho que fui picado. Que comichão.”
“Estou cheia de sede.”
“...”
“Isso quer dizer que estou com febre e que realmente estou com malária. Apenas comprova.”
“Achas?”
“Pois não. Devo estar paranóica, não devo ter nada. Que fazes com o repelente?
“ eu?”
“Sim!”
“A pôr mais. Só pelo caso. Acha que é suficiente?”
“que horas são?”
“três da manhã!”
“Ainda?”
“Boa noite.”

sábado, dezembro 20, 2003

Putos, berros e Freddy Mercury

O puto não pára de berrar.
Merda do puto que não pára de berrar!
FODA-SE QUE O PUTO NÃO PÁRA!
Ponho os phones, escolho o canal menos mau e passa alguém a cantar:
“Under pressure”, é o Freddy Mercury, que coincidência, que pressão que este puto está a exercer sobre o meu sono. Não consigo. Vou dar um estalo nele e nos seus pais, vai ter que ser.
“Ó puto pára com essa merda senão daqui a nada levas e ficas sem dentes.” penso eu alto, sem nada fazer.
Mudo o canal, a música não ajuda, para isso descarrego uma diarreia de palavras neste minúsculo bloco quadriculado, alivio a tensão e espero que sirvam alguma bebida ou comida para que possa distrair o tempo. Com sorte engano-o e ele escorre mais depressa.
Ele escorre por dois estúpidos filmes cheios de loiras burras ou imitações de jogos de computador com uns shorts fabulosos e um decote lascivo.
Entretanto as pilhas do puto acabaram, o que acabou com os berros.
Talvez agora adormeça e sonhe com os indígenas que vou encontrar.

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Retorno

Voltei a escrever neste blog e o que se seguirá neste blog, nos proximos vinte e tal dias, serão pequenas (his)estórias do que não pude transcrever do papel para o computador. Não terão nenhum fio condutor, por isso, as (his)estórias podem ser lidas em separado, em ordem contrária ou ao calhas, como saltar algumas.
No final, sendo por isso que digo desde já, poderão encontrar alguma relação no seu geral, pois é quase tudo reportado para um mesmo espaço fisico, onde estive.